quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Descomplicado

Abra os braços
Me deixa encostar em você
Que eu me abro toda
Para o receber

Fecha os olhos
Deixa os corpos se entenderem
Um homem, uma mulher
Instintos a se renderem

Você tem sua bagagem
Eu tenho a minha
Você pensa muito
E eu falo ainda mais

Pode ser quase nada
Pode vir a ser profundo
Mas este encontro, agora
É o primeiro do mundo...

(Nem tente prever)

Feliz 2016

O concreto é: nada será diferente do dia 31/12/2015 para o dia 01/01/2016. É só a passagem de um dia para outro. Os problemas continuarão lá, as alegrias, também. Você continuará na mesma situação econômica, amorosa, de saúde, e tudo o mais. Talvez, ao longo de 366 dias, mude. Mas também poderia haver mudança entre 13/04/2015 e 12/04/2016, e não se celebrou, porque não faria sentido.
Mas é essencial ao ser humano fugir do concreto. Atribuir poderes mágicos a essa mudança no calendário. Consultar horóscopo, búzios, acreditar em promessas dos astros, somar números para forçar um resultado que seja melhor do que o que se tem, agora.
E quem sou eu para criticar quem foge do concreto? Adoro anestesiar e suturar feridas, prescrever antibióticos e pontes de safena. Mas quando me pego presa no trânsito, o passarinho no fio elétrico me lembra um rosto lindo de homem, dois cachorros e um sorriso que só conheço virtualmente. E eu sorrio, apesar de saber que vou chegar atrasada a um compromisso. Concreta, eu? Só uns 50%, graças a Deus. Senão eu estaria numa camisa de força, concretamente costurada.
Então, feliz 2016 aos meus amigos que tentam administrar o concreto e o fantasioso da melhor maneira possível. Pulem ondinhas, comam lentilhas, vistam calcinha/cueca amarela, tragam em símbolos tudo o que os olhos não vêem, mas no coração acreditam. Tudo é válido, desde que não prejudique a ninguém, e traga brilho para o que é cinza. Beijos!

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Falha

Desculpa, amor
Não sei seduzir
Não sei trazer pra perto
Quem não quer vir

Sei aumentar um desejo
E não deixar faltar
Mas em carvão sem brasa
Não adianta soprar

(Perco nem meu tempo).

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Acelerada

Sigo amando a vida
Porque pessoas me divertem
Dançam comigo
E me dão tesão

Sigo vivendo
Porque me encantam
E decepcionam
Nada é por acaso
Nada nunca em vão

Sigo experimentando
Nem que seja pela viagem
De tomar o placebo
Que é toda paixão

domingo, 27 de dezembro de 2015

Transformação

O amor vira música
Vira poesia
Vira sonho
Vira de bruços

O amor vira beijo de bom-dia
Vira tédio
Vira visita pra sogra
Vira saudade

O amor vira espera em pronto-socorro
Vira consulta antes de decisões
Vira "detalhes tão pequenos de nós dois"
E se vira para continuar existindo

Mas o amor também vira partícula
Poeira sub-atômica
Ou um quase nada

Na história de quem não cuidou
Na memória de quem não viveu
Na culpa de quem não mereceu

Poema para um Poeta

E era um duende
Me ciceroneando
Por sobre as árvores
Verdejantes
Voávamos
E éramos amantes

E chegou o meu grande amor
(Um que sabia voar)
Lembrou ao duende que ele não
Tinha as asas certas
E este se esborrachou no chão

E então eu peço desculpas
Ao meu amigo poeta
Que tentou
Me fazer olhar
Para outro tipo de fantasia

A que não existe em mim
Porque eu sou só amor
Amor, amor, amor
Amor sem fim!

sábado, 26 de dezembro de 2015

A Voz

E quando tudo que espero
É um por-do-sol tranquilo
Me acontece
Simplesmente
Você

E quando acho que a química
Já sofreu todas as reações
Me aparece
Totalmente
Você

Sol de ventania
Mar de alegria
Porto seguro
Pro meu coração

Flor de nostalgia
Lábios de magia
Lua de mel maduro
Amor de fim de estação


Sobre amores que ficam no caminho

Ela tinha uma vaga ideia de quem queria ser quando crescesse, e nenhuma dúvida do homem que ele se tornaria - ele não a decepcionou.
Queria amar a si mesma do jeito que ele fazia, enxergar-se através dos olhos dele, descobrir de onde vinha aquela ideia tão certa de merecimento. Aquele encanto de quem vê um arco-íris saindo de um prisma pela primeira vez. Toda vez. No primeiro beijo, no pedido de namoro, quando ela desmanchou, quando ela pedia a bicicleta emprestada para se encontrar com outro, e ele fingia que não sabia.
As décadas fluíram, os caminhos se divergiram. Ela seguiu o seu, cidadã do mundo, ele o dele, senhor da retidão. Na convergência, reconhecem-se como almas oriundas da mesma centelha, e os olhos dele ficam vidrados como sempre, e ela com a mesma curiosidade - de onde tamanha capacidade?
Ela o beijaria na boca, hoje em dia. Não fosse a existência da outra.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Relógio

E em tudo que vivi
Nem tanto
Nem tudo me chegou
A contento
O que me falta no mundo
Invento
Se não durar, não precisa
É passatempo

E para quem quer o meu sofrer
Desacato
O mal é sempre o elo
Mais fraco
Para bons ouvintes
Relato
Sem seguir um pensamento
Exato

O corte da navalha
Tão rente
A gente encara todo dia
Carente
E acomoda ainda amor
Por mais gente
Que essa vida se vive
Em frente

Desistência

Cada coração
Um labirinto
Cada ação
Um motivo diferente

Nem toda resposta
Foi pedida
Nem toda explicação
Faz sentido

E o vazio
De dentro do peito
Enche-se de ar
De sol e altura

E quando eu bater asas
Para longe:
"Qual foi mesmo
A pergunta?"

Balanço

Se pudéssemos enumerar um a um o que é bom, as sensações únicas que já tivemos pela vida, e revivê-las uma atrás da outra, qual seria o resultado?
Mergulhar os pés num riacho límpido num dia de calor.
Abrir a porta para alguém muito esperado, abraçar e os olhos se encherem de lágrimas, chorar de alegria pela primeira vez.
Alcançar um sonho que demorou anos para se concretizar, sem ter muita certeza do que está por vir, mas feliz por ter chegado lá.
Receber uma notícia boa, rir de alegria, imaginar como o outro deve estar feliz.
Ver o berçário de uma maternidade: todos aqueles serezinhos miúdos, tantas possibilidades de vidas a se desenrolarem, tanto amor despertado em corações de mães.
Brincar com animais pequenos, sentir a energia esfuziante, os instintos se mostrando, como tudo é lúdico e exagerado.
Conversar com amigos, descobrir pontos em comum, sentir-se comungando com o outro, dividir planos, falar de medos, sentir-se são emocionalmente.
Ver o tempo cicatrizar feridas, aproximar semelhantes, afastar o que não é bom.
Estar perto de uma criança, deixá-la se expressar, ver o mundo através de seus olhos, tentar lembrar como era ter essa idade, essa ingenuidade, como foi experienciar pela primeira vez isso ou aquilo.
Assitir a um show musical, ir ao circo, ler um bom livro, experimentar um sabor novo. Receber flores.
Acreditar-se apaixonado, esperar uma ligação, um olhar, marcar um encontro.
Cozinhar e ficar bom, levar o filho para casa na alta do hospital, viajar, fotografar para relembrar. Dançar.
A lista parece não ter fim.
Talvez seja de nossa natureza o que é ruim marcar mais, para nossa própria proteção.
Mas, fazendo um esforço, dá para concluir que viver ainda é melhor do que não.


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

História

E era eu
E você
Nós dois
E a vida

Sua champanhe
Minhas borbulhas
Seus planos
Minha loucura

Sua estrutura
Minha surpresa
Sua ambição
Minha destreza

Sua espinha dorsal
Meu equilíbrio
Sua ausência
E o meu abrigo

E era para sempre
E era bonito
E era confortável
E era bendito

E um dia escorreu
Entre o vão dos dedos
E foi triste mas nunca
Um dos meus maiores medos

domingo, 20 de dezembro de 2015

Rotina

Porque cuidar é preciso
A gente acorda cedo
Finge que não tem medo
Enxuga a lágrima do outro

Porque discernir é preciso
A gente abre livro
Tenta manter o juízo
E chora escondido

Porque amar é preciso
A gente busca e se expõe
Se encanta e se aflora
A gente se enamora

Porque viver é preciso
A altura se alcança
Sobe-se em montanha-russa
(Mas com cinto de segurança)

Par

Mais do que o toque
Eu quero o alcance
Mergulhar nos olhos do ser
E vislumbrar sua alma

Atrelá-la a um cheiro
Uma música
Um momento
Uma frase
Um código secreto dos dois

Seja por um ano
Uma vida
Uma noite
Uma dança

Porque o tempo é um detalhe desprezível
Para quem vive em intensidade elevada
E nunca encosta os pés
Nos vales cheios do nada

sábado, 19 de dezembro de 2015

Sedução

Caia na minha rede
Peixe
Que eu te abraço
Te amasso
Não vai sobrar espinha
Sem se tocar

Deite na minha cama
Gato
Que eu te acaricio
E eu me vicio
No teu ronronar

Pouse no meu telhado
Falcão
Que eu te dou
Mil motivos
Para querer sempre
Voltar

Carta

Transformo a minha dor em palavras
E a mágoa em sentenças
E as entrego a você
Aprecie sua obra de arte
Alivio-me do que houve
Agora a escolha é sua
Ria se atingiu um objetivo
Arrependa-se se errou na mão
Segue o seu caminho se analfabeto
Por você não choro nunca mais

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Término

Desce!
Chegou o seu ponto
O fim do itinerário
Devolve o tíquete furado

Sentirei falta
Do sentimento
Não da companhia
(Nem precisava ter puxado
A cordinha com tanta força)

Remova a sua bagagem
Cuidado com a cabeça
Ela moveu-se no trajeto
Apeia!
Toma seu rumo!
Boa sorte!

Casinho

E eu fico assim
Um olho nos seus lábios suculentos
Outro na porta
Uma mão em você
Outra na maçaneta

Beijo-o de olhos abertos
As asas armadas para o vôo
Porque eu aprendi que se vive o momento
Mas no meu instinto não confio

Esotérica

A madame viu na bola de cristal
Moço novo a caminho
Achei que era um bom sinal
A baiana me jogou os búzios
Caíram meio vesguinhos
Me lembraram os seus olhos
O papagaio do realejo
Tirou um cartãozinho que dizia
"Sorte no amor" e eu sorri
A mulher embaralhou as cartas
Valete de ouros, certamente você
Um ótimo presságio
Disse "casamento a vista"
Mandei interromper a leitura
Definitivamente uma placa PARE!!

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Declaração

Eu te amo
Por todas as patas de cavalo
Que castigam o meu peito
Em corrida quando eu te dispo

E em toda a embriaguez
Que o teu perfume
Me causa

E todas as revoadas de passarinho
Que tocam a palma da minha mão
Atrás das tuas costelas

E pela pulsão de vida
Que bombeia em resposta
Ao meu toque

Em todo o calor que trocamos
Todas as palavras e riso
Em beijos e abraços

E em tudo que jorra na alegria do encontro
E em tudo que me inunda
No ápice do nosso gozo

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Diner

O que ela não contava nem para a própria sombra era que todas as manhãs, às 7:15 h, seu coração disparava ao ouvir o sininho da porta tocar, e, mesmo que estivesse de costas, sentia que era ele.
Que esperava com anseio ouvir sua voz, mas que, se estava com outro cliente, ignorava-o com um ar blasé, e deixava outra garçonete servi-lo. Não queria que ele a achasse uma mulher oferecida, ou pensasse que seu marido era corno. (O amor tinha acabado, mas ele era um homem bom, não mereceria isso).
Que adorava vê-lo nas fotos do jornal, e sempre se escondia no banheiro para gravá-las na memória. Gostaria de poder fazer um álbum delas.
Mas contava pra ele das crianças, da dureza da vida, dos planos para o futuro. Até a hora que chegavam mais clientes, e tinha que interromper a sessão de hipnose.
Às vezes, achava que era correspondida. Às vezes, que era tudo imaginado, por querer demais.
Também não contava a fantasia maluca que tinha com ele, um estranho: de que ele deixaria a esposa e ela o marido, e criariam juntos os cinco filhos que tinham, ao todo. E que ela seria uma boa mãe para os dele.
Ela se divorciou, porque achou que não havia sentido continuar aquela farsa. Duas semanas depois, ele foi assassinado numa briga de bar.

Rituais

Existem rituais
De chegada
De despedida
De passagem
Religiosos
De casamento
De morte
De batizado
De formatura
De cortejamento
E outros

Eu, de minha parte, jogo no lixo lingerie que comprei pensando em quem ainda não deveria estar usando cueca de gente grande.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Toque

Bem como a areia
É desenhada pelo vento
Pessoas desenham-se em mim

Em sorrisos e olhares
Ao dividir músicas, palavras e momentos
Em gestos de carinho e crueldade
Em boas e má intenções

Após a chuva eu me condenso
Fico menos vulnerável e mais estável
Mas vem o sol e me restaura verdadeira

Nessa imensidão de memória afetiva
Ampla demais para não ter eco
Definitiva demais para não ter consequência

Trégua

Se é da vontade de Deus
Que lágrimas molhem o solo
Pra que fique fértil
Pra que nasçam flores
Pra que haja orvalho
Pra que mantenham o viço
Eu peço encarecidamente
Que elas passem a ser de alegria
Porque estou cansada
De ser ferida pelas pessoas

sábado, 12 de dezembro de 2015

Aden

Às vezes adentra
Seu mundo íntimo
De amor
Histórias vividas
E sangradas feridas
Colonizadas
Por bactérias de dor

Às vezes volta à tona
Para respirar

Em outras percorre
O mundo inexplorado
Das vidas imaginadas
Por outros e outras
E exercita empatia
Recita noite
Recita dia
Coloca do avesso
O ódio e o apreço

E chora e beija a lona
Para retornar

Outras vezes
Encara o real
O complexo
E o frugal
Por ser mãe
Finca raiz
É professora
E aprendiz

Às vezes teme
Acabar por se afogar

Esta Noite

Hoje
A a noite acaba bem
Hoje
A espera tem fim

Hoje
Seremos eu e você
E você
Se vendo em mim

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Contida

Porque sou circunscrita
Em minha própria fronteira
No meu limite
Na minha cegueira

Porque me contenho
Na minha tradução
Minhas demarcações
Minha estiagem

Dentro da pele grossa
De elefante
E os poros fechados
Que não respiram

O celofane irrasgável
A silhueta intransponível
Os pulmões colabados
A atitude defensiva

Libertam-me a imaginação
A música e a poesia

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Xeque Mate

E a vida
Arremata
Dá o último nozinho
Para não ser desfeito
O chuleado caprichado

O anestesista suspira
O cirurgião arranca as luvas
Joga longe, as mãos suadas
O calor e o suor frio na testa

Não há mais cuidado
Em manter estéril
O campo cirúrgico
Vermelho e verde

E quem disse
Que alguma coisa
Tem que fazer sentido?

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Paciência

Diz onde você quer
Que eu beijo
Diz aonde você vai
Eu sigo
E quando elas o tocarem
Olho pro outro lado
E quando você olhar pro meu
Estarei esperando

Senta do meu lado
E me abraça
Que eu deixo
Manda foto de tristinho
Eu gamo
Me convence a não desistir
Que eu topo
Me faz passar vergonha
Eu rio

Onde vai dar tudo isso
Nem ideia
Amanhã ou depois, talvez
Nem sombra
Mas o hoje é doce e quente
Certamente
Aninhada nos seus braços
Eu gozo

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Prateleiras

Organizo
As fotos
Os fatos
As ideias
Os finais

Arrumo
As facas
As foices
Os "foi-se"s
Os bisturis

Guardo
Os cometas
Os condimentos
Os satélites
Eu reciclo

Pro lixo
O periférico
O deletério
E as sopas instantâneas
Com prazo de validade vencido

Velório

A gente olha para o céu
Esperando que o azul
Substitua o preto
E o infinito o fim absoluto
Mas não combina

Como não combina o silêncio dele
Em resposta aos sons de soluços
E o caminho das lágrimas

Os abraços dos impotentes confortam
(Além de tudo têm pena de si mesmos
Por saber que um dia serão eles os chorados)

Não tenho alergia a flores
Mas teve uma hora que eu não conseguia respirar
E o meu amigo não estava lá

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Violonista

Ele me virou lentamente de costas para ele
E me beijou embaixo do coque
Com o braço direito, enlaçou a minha cintura
E o senti, vivo, atrás de mim

Esticou o meu braço esquerdo e o manteve no ar
Envolveu o meu pulso com a mão, os dedos nos tendões
Abaixou a mão direita rapidamente
E me tocou sem dó

Desolação

O vento uiva
E não me ajuda em nada
Embaraça meus cabelos finos
Mas não varre para longe
Os pensamentos pesados
As nuvens escuras e trovões

O vento revolta
O mar que habita o meu peito
Traz à superfície areia
Águas vivas e tubarões
Mas os tesouros de pérolas
Há muito migraram e derreteram
No centro de lava da minha Terra

O vento me balança
Para frente e para trás
Mas a minha mente
Só conhece o espelho retrovisor
E a cada camada de calor que ele leva
Outra febre se apodera
Da minha pele

Míope

Tratos são tratos
E a gente escolhe
O jeito de tratar

Fatos são fatos
E a gente escolhe
O jeito de julgar

O coração às vezes
Quer olhar de longe
Que saia bem na foto

A razão vem
Troca o grau
Conserta o óculos

domingo, 6 de dezembro de 2015

Menininha

Bem-vinda
Respira fundo
Agora começa
Para você o mundo

Não fará muito sentido
No começo
Mas pensando bem
Nem no meio e nem no fim
Mas será bom

Você vai descobrir
Os prazeres
Os quereres
Os sons, luzes e cores
E se deslumbrará

Vai se ver amada
E rejeitada
Mas deixemos
O ruim pra lá

Bem-vinda, querida
Entregue-se à mamãe
Confia nela
Não há melhor

Conta comigo
(Sua titia)
E a vovó
E o irmão
E o papai babão

Em alguns anos
Escrevo outro poema
Com sugestões

Só uma não mudará
Porque é também
Um desejo:
Menininha, seja feliz!!!


Para a Grace, filha da Beatriz Fonrobert Osta

Existência

Você se infiltrou
Na minha mente
No meu dia
Minhas noites
Você dominou

Na cumplicidade
No carinho
Na confiança
Na amizade
Você conquistou

Seus tentáculos
Amorosos
A me apoiar
Nas dificuldades
Seu sorriso amigo
"Deixa comigo!"

Hoje a minha vida
É mais plena
Mais alegre
Mais serena
Fica pra sempre
Meu amor

Domingo

Mais um dia
Para celebrar
Estar viva

Ser mulher
Ser mãe
Ser namorada
Ser diva

Mais um dia
Para escrever
Viver
Querer

Esquecer
O que causa
Mas não merece
Ser ferida

Mais um dia
De alegria
E de tristeza
Mais um dia
De vida

sábado, 5 de dezembro de 2015

Início

Que lindo é ouvir uma história de amor...
No meio do meu sábado cinzento
Chuvoso, pacífico, preguiçoso
Me chegam palavras
Sobre desabrochar tímido de flor

E me invade o aroma virtual
A cor, a esperança, a infância
De um amor que engatinha
E promete vida a se desenrolar
Em fluxo suave de bênçãos

Leitor

Eu antes escrevia
Por hobbie
Distração
Passatempo
Alegria

Para mim
Ou outro(a) qualquer
Também à toa
Distraído(a)
Numa boa

Agora que sei
Que você me lê
Tudo mudou
Porque o muso
Enfim chegou

Minhas cenas
Serão mais quentes
Porque terão
Seus olhos
Sua barba
E seus dentes

(Agora escreverei para provocação).

Karma

Naquela noite
Nos reconhecemos
Piegas assim
Definitivo assim
Ai de mim

Sabíamos que a vida:
Nunca mais a mesma
Típico assim
Brega assim
Ai de mim

Não imaginamos
Porém
Que o destino
Tinha planos
Também
Ai de nós

Não há religião
Doutrina
Consolação
Que acalente
A minha alma:
Sem voz



Choro

Talvez um dia
Eu deixe de chorar
Em carrilhão
Em sucessão
Começando por cansaço
E terminando na surra
Que levei da minha mãe
Em 1983

Talvez um dia
Minha mente não emende
A paciente inocente
Da gravidade
Com a ofensa do irmão
A notícia ruim recebida
Com a doença do gato
De estimação

Talvez um dia
Eu admita
Que choro
A tua ausência
E que ela veio pra ficar
Quem sabe até
Um dia
Deixo de chorar

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Joia

Chega de pouco
Pouco interessado
Pouco interessante
Passei a peneira
Sobrou o de valor
Bruto, sim
Falso, jamais...

Sonhos

Planejei uma profissão
Que é mais linda
Do que eu esperava
Quis ter um grande amor
Foi melhor
Do que eu contava
Convidei a maternidade
É mais amor
Do que eu vislumbrava
A maioria dos meus prazeres
Eu tenho de olhos abertos

Barganha

Troco todos os galanteios
As palavras e os floreios
Por um beijo seu

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Amorzinho

Você
Está chegando assim
Devagarzinho pra mim
Fogo e estopim

Você
Traz um sorriso estampado
Música e bailado
Conquista tudo em mim

Você
Por quem escolhi esperar
Vem pra valer e ficar
Que já é hora de amar

Destoou

Eu não coube
No molde
No sapato
Que fabricou
Para mim

O espartilho
Era um número
Menor e
Asas amarradas
Cobram o seu preço

Nosso amor
Era condenado
Meu camarada
E era só
Uma questão
De tempo

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Longe

Me desato em suspiros de saudade e de querer da alma.
Me deságuo em desejos de abraços e sonhos de mulher.
Porque o sinto bom e belo e doce e distante.
Porque vivo a alegria de ser querida e a agonia de não pertencer à sua vida.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Chamado

Me encontra ali na esquina
Da vida
Façamos nosso prazer
Um ritual

Me acha ali no quarto
De cima
Vem me fazer bem
Me fazer mal

Me leva para o ponto
De ebulição
Do amor quente
Da loucura informal

Me entrega para o sono
Da paz do corpo
Do repouso da alma
Da exaustão total

Esperando

Vou chamar você
Pra me ver
Quando a chuva passar

Vou pedir pra você
Vir descalço
Porque eu também
Vou estar

Pularemos
As poças todas
Pra comemorar

Fingirei
Perder o equilíbrio
Pra você me abraçar

E oferecerei
A minha boca
Pra você experimentar

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Beijinho

O belo não fala só aos olhos
O querer não toca
Apenas o coração
Quando a emoção não é pouca
Gosto a gente sente
É na boca

Fast Food

Ela já tinha terminado de atendê-lo, e olhava para a frente, aproveitando os minutos de trégua, os pés já inchados dentro dos sapatos.
- Calor, hein? - disse ele, enquanto esperava a comida, ao lado, como ela orientara.
Ela deu um sorriso amarelo. Sentia-se um pouco prostituída por ter que fazer aquilo quando não queria, por dinheiro.
- Ainda bem que tem ar-condicionado, né?
- Pois é. Mudei pra cá recentemente, depois de casar. Lá de onde venho, não era tão quente.
Ela acenou que sim com a cabeça. Olhou para a frente de novo.
- Faz tempo que você trabalha aqui?
- Um pouco.
Ele aguardou mais uns minutos e insistiu:
- Se a minha mulher souber que eu estou aqui, ela me mata!
A vontade dela foi gritar: "Cara, você tem uma aliança na mão esquerda, já percebi que é casado!".
Mas continuou com o sorrisinho.
A bandeja foi entregue, ele agradeceu as duas moças e emendou, para ela:
- Lindinha, você...
Ela resolveu dar um tempo. Foi até a moça que fritava as batatas, olharam para os lados e trocaram um selinho. A outra apertou seu cotovelo esquerdo, o código para "fique firme, temos planos".
Não aguentavam mais servir sanduíches para executivos entediados.

domingo, 29 de novembro de 2015

Oco (Sem Cérebro)

Meu átrio o atraiu
E entrou nele
Com ares de rei

Tossi
Para expulsá-lo
Pelo ventrículo
Mas voltava
A palpitar
A cada sussurro
Cada olhar

Vasculhei
Entre as cordoalhas
Que ele usava
Para tocar violão

Descobri o danado
Hibernando
Numa cúspide

(Minha mitral
Me traiu!)

Mal de Amar

Todo amor é amargo
Quando sentada na areia
Suspiro sabendo que não vens

Um barco passa ao longe
A brisa leva embora
O perfume que usei para ti
Mas não vens

Toda onda é calma de se olhar
Tua ausência dói de salgar
O farol tem pena de mim
Porque me olha de longe
E hoje não vens

sábado, 28 de novembro de 2015

Comportada

Minha larica
Não é por álcool
Erva
Festa
Ou farinha

Minha larica
É arrancar
Seu cansaço
(Com beijos)
Ao final
De todo dia

Oração

Que não me falhe a memória se um dia eu deixar de me amar.
Que eu me lembre dos amigos de décadas e de horas, dos segredos divididos, dos apoios e risadas.
Que eu me lembre dos amores: dos meninos e homens, dos pequenos e grandes, dos que deram e receberam.
Que eu me lembre dos meus filhos e do pai deles, do amor entre nós e da boa intenção, das decisões que exigiram coragem, dos sacrifícios e recompensas.
Que eu me lembre dos meus pais, tios, primos, irmãos, da grande teia de histórias que nos uniu num momento tão breve da eternidade.
Que eu me lembre da minha profissão: a dedicação e como me foi dada a graça de fazer diferença na vida das pessoas, ainda que não todas.
Se eu fraquejar e deixar de me amar, um dia, que a memória não me traia, e me restaure a alegria.
Amém.

Tango

Conduza
A minha saudade
Para longe
Que conduzo
As tuas dúvidas
Também

Deixa o teu corpo
Me mostrar
O que quer do meu
Façamos arte
Gozemos da saúde
Que Deus nos deu

E quando chegar
A noite
De dançarmos a sós
Compensaremos os dias
Em que houve
Roupa demais entre nós

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Arrependimento

Lembranças
Marinadas
Pelo vinho
Uma mágoa
Um descaminho
Uma lágrima
E eu sozinho

A história certa
Os motivos errados
O amor em queda
Os planos frustrados
Na rua um bêbado
Grita um palavrão
Cá dentro eu
Seu fantasma
E a solidão

O mundo gira
Você sorria
"É para sempre"
E eu contente
A náusea chega
Tenho má sorte
Melhor seria
Chegar a morte

Lembrança

Quando eu chegar
Naquele lugar
Com o sol a brilhar
Quando a nossa
Música tocar
E a pele arrepiar
É do seu sorriso
Que eu vou lembrar

Olhos Verdes

Hoje, o ciúmes me assaltou
Como não fazia há anos
E totalmente de surpresa

Não foi ciúmes do homem que eu quero
Nem da minha tia preferida
Não foi da minha melhor amiga
Nem da minha mãe, que divido com tantos

Foi de alguém que mal conheço
Uma história de reticências
Como se fosse direito
Tomar posse de quem não se deu
Como se ao menos soubéssemos
Do que nos privamos (por escolha)

Hoje, o ciúmes me assaltou
E foi uma mini angina no peito
E não há nada a se fazer
A não ser esperar passar

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Fome

Tua saudade
Chega mansa
Etérea
Vagarosa
Qual açúcar
Cheiroso
Cristalizando
Em algodão doce

Saliva a boca
Rodando em dança
Toma corpo
E conto os dias
Para banquetear
O teu...

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Nós

Eu me vejo
Nos seus olhos
E esqueço
O azul lindo
Do céu

Seu coração
Perto do meu
Esquenta mais
Que os nosso pés
Sobre a telha

Você é meu passarinho
Meu amor e meu carinho
Minha perdição
E meu caminho

Maresia

Eu
No fundo
De um barquinho

Mãos na nuca
Sol que atravessa
A blusa
E intumece
Os sensíveis

Dane-se
O vermelho
Que me invadirá
A pele à noite

Meu corpo
Já arde em febre
E a brisa sopra
O teu salgado
Nos meus lábios

Eu deitada
No fundo
De um barquinho

Imagino que o balanço
É o teu doce amor
A me ninar

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

domingo, 22 de novembro de 2015

Pro Menino

Com você
Minha vida
É mais leve
Meus sorrisos
Têm mais pérola
Minha vida tem mais cor

Com você
Tudo entra
No ritmo certo
Quero ter
Você por perto
Prá poder falar de amor

sábado, 21 de novembro de 2015

Indefinido

Imediatista demais prá ser amor
Sólido demais prá ser ilusão
Bom senso demais
Prá ser paixão

Amizade demais
prá ser sofreguidão
Calculista demais
Prá ser obsessão

Na falta
De palavra melhor
Batizemos de
"Eu e você"
E digamos
"Não é nada
De mais..."

Ilusão

Iluminar apenas
A parte sinuosa
Do corpo
Correr os olhos
Pelas curvas
Tomar a parte
Pelo todo
Como se possível
Fosse
(para a alma)
Contentar-se
Com pouco

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Lua-de-Fel

A convivência
Tira as cascas
Tira as lascas
E o verniz

O dia-a-dia
Derrete a máscara
Desdoura a pílula
Revela a cicatriz

A pele exposta
Os cheiros crus
A reação não polida
Os olhos nus

São testes para o amor
As provas do querer
É abraçar com carinho
Ou deixar o belo morrer

Simples

Não me ponha
Em pedestal
És apenas
Um homem
Sou apenas
Uma mulher

Não há bem
Não há mal
Há mistérios
Que o amor
Só revela
A quem quer

Me entrega
Teu coração
De menino
Faço remendos
Como ninguém

Não há segredo
Nem destino
Eu só quero te amar
E ser amada
Também

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Em Você

Me encontro
Me agarro
Me situo
Me enlevo
S
* a
** i
*** o
**** d
***** o
******* e
******** i
********** x
************ o
Me solto
Me deixo

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Esperança

Há de se trabalhar a culpa
Há de se poupar as crianças
Há de se cultivar o bom desejo
Há de se cuidar do que é puro

Há de se preservar o olhar no belo
Há de se esquecer a matança
Há de se manter o que pulsa
Há de se regar o que floresce

Há de se tecer o que protege
Há de se escrever o que distrai
Há de se bordar o invisível
Há de se sorrir sem motivo

Há de se deixar soprar
Num novo vento
Para a vida continuar
A valer a pena

Registro

Fotografar
É dar de presente aos olhos
O que o coração sente
Repetidamente

Tentativa de eternizar
O que vale existir
Expor, celebrar
Ou denunciar

O que deve ser mais
Que um momento
Neste mundo fugaz

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Líquidos

Não compreendo
O jejum voluntário
Na presença de banquete
Sempre tive bom apetite
E me fartei de migalhas

Não me deito com insones
Porque sonho colorido
Em cada arco-íris
Certamente um pote de ouro

Tenho penas e asas
Não me vejo em escamas
Inspiro fundo
Conjuro pulmões
Não entendo guelras

(Afogar-me-ia no seu mundo)

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Fotográfica

Eu me lembrarei de você
Ai, e como...
Quando tocar essa música
Me lembrarei da sua mão
Sobre a minha
E o seu coração por baixo

Eu me lembrarei disso aqui
Da minha roupa e da sua
Do cheiro do seu rosto
Da sua pele bem barbeada
Que meus lábios tocam

Eu sorrirei ao lembrar
Do suor que escorre
Do calor e das risadas
Do "permita-se"
E de como eu não tive
Outra escolha
Que não obedecer...

domingo, 15 de novembro de 2015

Unapologetic

Não me meça
Não me vigie
Não me observe
Não sou tua extensão
Nem da tua conta

Não me aprove
Não me avalie
Não me apoie
Nunca quis aprender
A tua métrica

Consistência

E eu insistirei
Em ser feliz
Em sentir e em lutar
E em tudo o que eu quis

No bom senso
Ao escolher amigos
Na inocência
Ao fazer inimigos
Na loucura
De viver amores

Eu insistirei
Na química do sorriso
No abraço, no abrigo
No cuidado ao frágil
Na fuga do perigo

No passageiro
E no perene
No que se abandona
E no que se cultiva
No que se carrega
E no que se esquece

Mas acima de tudo
Eu insistirei
Em existir em mim
E para mim mesma

sábado, 14 de novembro de 2015

Fui

Faço as contas
A promessa
Desfaço a figa
Fino filete
De paciência
A se escoar
Faço de conta
Disfarço a liga
Fujo de novo
Faço movimento
É a fila
A andar

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Pós Alta

Existe uma paz quase perene
Um cuidar de si solene
Uma entrega aos quatro elementos
Uma harmonia de sentimentos

A fuga do que destrói
A procura pelo que dura
Características apenas dos seres
Que sobreviveram à própria loucura

Musa

A outra toda ali
Um dia a esposa reconheceu
Estampada escancarada
Em tudo o que escreveu

Não havia mais como negar
Era flor e fruto, caule e raízes
Eram (todos os três)
Patéticos infelizes

Louca

Quantas cascas ainda arrancarei
Prá me situar em mim
Quantos toques da língua
No dente doido
Para auto punição
Quantos degraus de loucura
Ainda há para subirmos
Quantos mililitros de sangue
Escoarão nos seus caninos
Em nome dessa nossa vaidade
Cuja sede não tem limites

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Dualidade

Dualidade

Se me queres
Verdadeira
Me acolhe inteira
A bruxa morde
A fada assopra
E no final do dia
Nem saberias
Por qual das duas
Morrerias...

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Quer?

"Você quer vir?"
Escreveu ela
"Então venha
Mas antes abra o meu apetite
Com palavras e ideias
Surpresas e risos
Me faça sonhar com você
Deixe em casa os planos
Os medos, os sustos e os pudores
Comece a jejuar já
E traga mil talheres..."

domingo, 8 de novembro de 2015

Contraste Básico

Seu formato de triângulo
Com base voltada pro infinito
Minha curvas de ampulheta
Equilibram o meu peso
Em direção ao chão

Meu vacilo trêmulo
Falta de coordenação
Seu reflexo sereno
Firmeza de condução

Minha pele macia
Fina pétala sensível
Sua mão de lixa fina
Língua de gato, arrepia

Minhas coxas
Brancas roliças afastadas
Seu quadril negro
No movimento certeiro

sábado, 7 de novembro de 2015

Ela

Já cruzou mares
Tocou os pés
Em areias escaldantes
E neves gangrenantes
Entre estrangeiros de outras línguas
Emudeceu sentimentos berrantes

Deixe-a estar...

Já chorou abortos de outras
E devolveu filho adotado
Colocou prá dormir a dor dilacerante
Ajudou a nascer filhos inesperados
Acompanhou passos para a morte
Internou gente amada em manicômio
Resgatou parente da inimiga
Ouviu clamores de detentos

Deixe-a ser...

Se queres tocar seu corpo
Peça a permissão
Talvez recebas um "sim"
Na certeza de que vem um "não"
Mas se queres tocar sua alma
Observe os detalhes
E faça com cuidado
Há cicatrizes e chagas abertas
E mesmo ela não sabe qual é qual

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Nutritivo

Ele é
O meu manjar de côco
Com ameixa
Minha salada de frutas
Com groselha
Meu bolo de fubá
Com goiabada
De noite me esquenta
E começa pela beirada

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Adendo

Sobre o exagero do querer
E a felicidade do encontro
Apenas uma declaração
E pronto:
"Merecia
Ter
D
u
r
a
d
o
Mais..."

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Perturbada

Fique quieto
Passarinho
Não ouse abrir o bico

Ele já se foi
Já partiu
Mas está aqui comigo

Silencie, meu pequeno
Aqui eu te
Dou abrigo

Logo as vozes voltarão
E confirmarão
O que te digo

Crítico

Meu medo nem é
Que você
Ache meu poema
Fraco

Ele é trêmulo
Espontâneo
Inexato

Meu medo
Nem é
Que você
Deixe de ler

Meu medo é
Me declarar
E você não saber
Que é prá você

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Finados

Tentando não lembrar
Que hoje é dia de quem a gente amou
Gente que se ausentou
Tentando não chorar a saudade
Ao menos um único dia

Pássaro

Você
Traço ondulado
Escuro
No meu céu azul

Você
Concreto
Contraste
Com o etéreo
Das minhas nuvens

Você
Sinta-se convidado
A pousar
No meu colo

domingo, 1 de novembro de 2015

Diferenças

Onde enxergas tempo perdido
Ouço músicas de relógios
Onde venero o silêncio
Procuras heavy metal
O que manténs sem exercício
Eu chamo de desperdício
O que gostas
Me frustra

Na tela que me mostra
Sabedoria e profundidade
Beleza e dignidade
Vês agonia e tristeza
Sofrimento e desistência
Nossas paletas são diferentes
Sou de um daltonismo
Que me protege
Do que vês

Sob(re) o (In)suportável

E a fonte
Outrora
Inesgotável

Sóbria
Sussurrante
Sedutora
Saciadora
De vontades

Um dia
Simplesmente
Secou
(Lasque-se!)

sábado, 31 de outubro de 2015

Acordo

Não falaremos do amor
Em terceira pessoa
Como se ele tivesse vontade própria
Como se se impusesse
Aos nossos corações
E vida

Porque o amor
É essa coisa linda
Minha e sua
Que fazemos
Dia após noite
Noite após dia
Na varanda, na cozinha, na pia...

Falta

O coração
Machucado
Outro tanto

Olhos tristes
Derramam
Outro pranto

O corpo clama
Por você
(Todo canto)

Crise

O tédio chegou
De fininho
Passou por debaixo
Da porta, um dia
Qual camundongo
Como ela previa

Procurava contentamento
Espiando o mundo na janela
Ele pulava de bar em bar
E no final da noite
Achava um jeito
De a culpa ser dela

Curta

Havia eu
Havia você
E a possibilidade

Não havia
Coincidência
Das vontades

Hoje existimos eu
As lágrimas
A saudade

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Traição

O casal
Transformaste em
Um trio
Tento pouso
E equilíbrio
Minha vida
Por um fio

Plumas

Ele a desejava
Como homem
E a amava
Como menino
Ele veterinário
Ela passarinho

Também o amava
Mas resistia
Pois sabia:
Quando a asa
Fosse restaurada
Voaria...

(De novo...)

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Reminiscência

Faz tempo que não te vejo
Há tempos
Não há desejo
Faz tempo que não te beijo
Há tempos
Do amor...
Nem um lampejo...

Caidinha

Apaixonar-se
É fazer acrobacias
Sem rede de proteção

É viver entre as nuvens
Os pés esquecerem
O que é o chão

É jogar-se em
Piscina rasa
Afogar-se em contradição

É tentar manter
O bom senso
Explodindo de tesão

Carrinho de rolemã
Sem freio
Descendo em declive

É salto de olhos fechados
É vôo em queda livre
(Deus me livre!)

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

À Francesa

Desaprovo
O seu enredo
Volto quando você
Perder o medo

Flexível

O que você esqueceu
Em seu plano meticuloso
De destruição
É que o caleidoscópio
É belo por ser caótico
Se rearranja
Se restaura
Se refaz
A cada momento
E movimento
Fiel à sua definição
Nunca deixa de ser
O que na verdade é
(Ou quem é)

Cinza

Lá fora o arranha-céu
Cá dentro arranho a parede
Lá fora os quatro elementos
Cá dentro nada aplaca a sede

Lá fora a turba vibra
Cá dentro a dor de barriga
Lá fora a energia fervilha
Cá dentro a mente é uma ilha

Lá fora a vida grita
"Não te convido"
Cá dentro a mesma decreta:
"Risco de suicídio"

Desistência

Com tanta água caindo
Poupei meu cavalinho
Da chuva
Mas a peteca no chão
Definitivamente não
Mea culpa
Mais popular que o Wando
(Melhor eu sair andando)
Talvez até seja um erro mas
Segue o enterro

terça-feira, 27 de outubro de 2015

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Volta

Ao amor
Que transcendeu
Marcou, cravou
Fez morada no subcutâneo

Não se contentou
Em existir
Surgir, vingar
Durar e passar
Como o destino quer

Ao amor
Que teimou
Em sonhos
Sussuros
Cheiros
E lembranças

Me entrego hoje
Nesta vez e de novo
E em todas as outras
Que certamente virão



domingo, 25 de outubro de 2015

A Cor com que me pintas

Ardente
Quente
Lava vulcânica

Aquece
Enrijece
O que é vivo
Por baixo

Acelera
O movimento
Tira da inércia
Rodopia

Em sonhos
Promessas
E planos
De prazeres
Tamanhos...

Renúncia

A lua é dos amantes
E a noite convidativa
Uivo para ela
E quem me responde é você

Me liga
Me provoca
E depois volta
Para a focinheira de ouro

Boa sorte!
Quem sabe
Sendo um bom menino
Ela dá uma voltinha no quarteirão
Com você...

Farmacodinâmica

Ela não lhe serviria como anestésico
Fuga da realidade
Viagem alucinante

Era de outra classe de narcóticos
Muita intensidade
Alta velocidade de distribuição
Excesso de volatividade

(Seu parco metabolismo
Não a aguentaria)

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Busca

E lá estava você
E era você
E eu também, lá
Sendo eu

Você com sua sede inesgotável
Bebendo de filtro de barro
E eu cachoeira

E porque você era você
E eu era eu
A queda de braço se deu
Porque você salivava
E eu desaguava em outro mar

E porque nós éramos nós
Nunca ficávamos a sós
E teve que ser como foi

(Nunca teríamos desistido
Um do outro)

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Segredos

Não conte!
Não conte
Da mão boba do tio
Não conte
Quantos homens já tiveste
Não conte
Do aborto testemunhado
Não conte do adultério desejado

Tens a praga
Do "xis" em dobro
A marca da vaca-propriedade
A letra escarlate
Marcada a ferro em brasa
No peito esquerdo
Em formato de maçã

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Triangular

Há um lado terno em mim
Que faz carinho em seus cabelos
E beija as suas pálpebras levemente
Com cuidado para não o acordar

Há um lado carente em mim
Que procura o seu olhar
Que clama por sua atenção
E precisa da firmeza da sua mão

Há um lado fêmea em mim
Que chupa a sua saliva
Morde o seu pescoço
E quer você por dentro

E há esse ser que é você
Que sorve meus três vértices
De um gole só
Desde a primeira noite

Concreta

Não me envaidece
Ser musa
Tema de música ou
Virar poema

Não me enternecem
Telefonemas na madrugada
Músicas dedicadas e nem
Flores na porta

Não me seduzem
Cartas elaboradas
Serenatas de terceiros ou
Cantadas virtuais

Me encanta
Aquele que dá a volta na mesa
Trazendo a taça de vinho
Para ficar mais pertinho

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Tentativa

Nem tente me esquecer
Desenhei o traço
Do seu lábio inferior
Com o meu dedão
Para que sua boca
Continue falando bem de mim
Aos quatro cantos

Nem tente me esquecer
Entrelacei meus dedos
Nos seus cabelos
Para que penses em mim
Quando chover
Quando tomar vinho
Quando parar no sinaleiro
E quando tomar banho

Nem tente me esquecer
Escrevi nos riscos que fiz
Nas suas costas com as unhas
Que quando estiver longe de mim
Vai lhe faltar o ar
E doer o peito

Nem tente me esquecer
Marquei suas panturrilhas
Com os meus calcanhares
Para você saber
Que sou o susteio agora
De tudo o que te delicia

Nem tente me esquecer
A massagem nos seus pés
Lhe ensinou direitinho
Que a sua zona de conforto
É ao meu lado
Agora e para sempre

Inesquecível

Você
Me inspirou sonhos
Me sugeriu planos
Me lembrou do amor

Você
Me levou em viagens
Me tirou o fôlego
Me roubou a dor

Você
Se escreveu na minha pele
Se infiltrou na minha vida
Se revestiu de mim

Você
Foi a melhor surpresa
A maior alegria
E a pior perda

domingo, 18 de outubro de 2015

Erro de Cálculo

Um dia, cansada de ele estar ao meu encalço por tantos anos, dei um giro completo, segurei-o em volta das orelhas e beijei-o longamente, bem no meio daquela barba maravilhosa. Foi pego tão de surpresa, que nem me abraçou. "Sua louca! Afinal, o que você quer?" Não respondi e beijei-o de novo, suplicando em minha cabeça: "Que você me decepcione."
Puxa vida... Devia ter falado em voz alta...

Dia do Médico

Sei que muita gente já passou (ou viu ou soube de alguém com que aconteceu) uma má experiência com médicos. Ou mais de uma. E é chocante, porque, neguem ou não, espera-se uma superioridade moral deste profissional, da mesma forma que se tolera erros de um homem como pai, que viram manchete de jornal, se for uma mãe que faça.
E eu entendo. Errar, de propósito ou não, com uma pessoa doente, fragilizada, ou sua família, é adicionar maldade ao que já é mau.
Mas como hoje é o Dia do Médico, e por óbvios motivos, eu conheço bons médicos aos milhares, gostaria de dizer que também fico doente, que meus filhos e parentes também, e que acumulo muitas histórias de marejar olhos de ternura e gratidão.
Exemplo: o obstetra que me acompanhou na primeira gravidez, e o outro, na segunda e terceira. O anestesista do parto. A médica que operou o rim do meu filho. O neuro que deu conta da minha enxaqueca. O cirurgião que operou a apendicite do me filho. O otorrino que tirou as amígdalas da minha filha. Para eles, só um paciente a mais, num dia de rotina. Para mim, os eventos do século! Eles provavelmente só lembrariam de mim se eu mencionasse que sou médica. Para mim, são inesquecíveis.
E, no outro lado da moeda, tenho colegas que me ajudam com pacientes, cada um na sua área, cuja competência testemunho diariamente. E tenho meus mentores, médicos que me ensinaram e ensinam, que coloco num degrau acima de mim em conhecimento, em quem confio como profissional e pessoa.
Enfim, encontrar bons profissionais na área da Saúde é uma bênção... Parabéns aos meus colegas e amigos, que escolheram essa profissão fascinante, que amam o que fazem e gostam de um desafio. Deus nos ajude e guie, sempre!

sábado, 17 de outubro de 2015

Salivando

Essa sua boca linda
Tão quente
Tão perto da minha
É a porta
Prá tudo que é bom
Meus lábios de edredon...

Sussurro

Meu poeta
Meu lindo
Recebe em teu ouvido:
Se escolherias
Morrer ao lado de teu amor
Por que escolhes viver sem ele?

Muso

Não veio prá dividir
Tempo
Espaço
Conta bancária

Não veio para durar
Mais que o encanto
O enlevo
O sonho

Não veio para ser
Um problema
Apenas tema
De um poema

(Na verdade, uns vinte...)

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Vermelho

Nesta noite
Quem me procura
Não me acha

Nesta noite
Estou a fim
De fazer graça

Esta noite
Tem cortina
De fumaça

Nesta noite
Trago garrafa
E sirvo taça

Nesta noite
A solidão
Não me ameaça

Nesta noite
Nossa história se
Desembaraça

(Desta noite
Você não passa)

Sororidade

Não pensa que não sei
Dos seus encantos
Sua beleza
Sua alegria
Sua transparência
Sua força
Não há razão
Para estranheza
Não somos rivais
Você é uma mulher
Como nenhuma outra
E eu também

Como vou?

Bem...
A vida segue aos poucos
Os sonhos diluem-se aos muitos
Os demônios são expulsos aos trancos
As quedas dão-se aos barrancos
O doce se esconde ao fundo
A raiva é espantada aos gritos
A dúvida retira-se à francesa
O frango é servido à cubana
Os problemas discutidos à exaustão
E continuo feliz (à moda da casa)


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Promessa

Um dia escreverei sobre amor
E não será para você
Um dia lerei um poema
E não me sentirei ante você
Um dia ouvirei sobre saudade
Não pensarei naquela após você
Um dia caminharei para a felicidade
Mas não será até você
Um dia gozarei num sonho
E não será com você
Um dia farei planos diabólicos
Que não serão contra você

(Um dia acharei até graça
Um dia você passa)

Ciclos

Quem define com precisão
A hora em que termina o dia
E em que a noite se inicia?

Serão os últimos raios de sol?
Será o luar a brilhar?
Serão os trabalhadores em casa?
Serão os boêmios na rua?
Serão as trabalhadoras da rua?

Quem define com precisão
Os rumos do meu coração?
Será o Fulano a sumir?
Ou será o Sicrano a chegar?

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Romance

Na afinidade das almas
O melhor vem à tona
Os espíritos florescem
A pureza brota
As intenções são claras
A paz invade as decisões
Os olhares se procuram
Os destinos se ajustam
Não acreditar no amor
Deixa de ser opção

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Escritora

A poesia
Me faz alada
Transporta-me leve
Nessa viagem sagrada

Os poemas
Me fazem serena
Ajudam-me a suportar
O peso das minhas penas

Querido

Quero tingir seus sonhos com as minhas cores
Do mesmo jeito que você fez com os meus
Quero ser o maior dos seus amores
E o brilho dos olhos seus

Porque a minha vida se transformou em uma noite
E já era tempo de aprender a amar de verdade
Porque o admiro e o quero e o amo
E entre nós não pode haver saudade

Vem para mim, meu vício
Minha vida, alegria, meu viço
Sejamos felizes enquanto há tempo
De viver e fazer rebuliço


domingo, 11 de outubro de 2015

Locomotiva

Meu coração de criança
Seguia viagem
Na sua direção
Até chegar
A malvada mensagem

Pulou a estação
"E se...?"
E não desceu na
"Mas e quando...?"

Apeou tranquilo
E feliz
Na estação
"Foi ele quem não quis"

Lição

Passei a minha vida
Fugindo da loucura
Entre livros da Ciência
Decorando estatísticas
Confiando em probabilidades
E investindo em romances
Prá lá de improváveis

Talvez eu tenha merecido
A puxada de tapete
As pernas lançadas ao ar
A queda dura na realidade
Ainda não sei o que é
Mas um dia eu aprendo

sábado, 10 de outubro de 2015

Distância

Não tenho pressa...

Tão certo quanto as gotas
Seguem uma única direção
Atraídas pela Terra

Tão certo quanto o outono
Chega após o verão
E a borboleta sai do casulo
No momento exato de colorir
E expressar beleza

Seus pés caminham para mim
Sua vida vai encontrar a minha
A semente já foi lançada
O desabrochar vai acontecer
Va
Ga
Ro
Sa
Men
Te...

Aprendizado

Você chegou de surpresa
No momento errado
De amar mais alguém

Você durou mais do que devia
Fez uma baguncinha
E colocou tudo no devido lugar

Você me intimidou
Questionou, desafiou
Me desestabilizou

Você foi embora e me ensinou
Que quando a intuição avisa
É melhor eu escutar...

Nostalgia

Hoje acabou a energia
Hoje acabou a alegria
Me entrego assim
Rezando para que você exista
Em algum outro lugar
Além de dentro de mim

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Dicotomia

Reúno as minhas forças
Para subir a infinita escada
Mas se Deus me queria no Céu
Por que não me fez alada?

(O diabo me oferece diariamente
Uma roupa de amianto)

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Vida

Essa eterna procura por equilíbrio
Enquanto o chão ondula
O céu cai em cima da cabeça
E a carne treme

Esse ínterim improvável
Entre o nascer e o morrer
A cronicidade e o surto
O normal e a labirintite

Esse correr contra o tempo
Chorar perdas e desperdícios
Comemorar os aparentes triunfos
E gozar o máximo de vezes que puder

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Chamado

Vem passear
Por essas bandas
Tenho lugares
Prá mostrar
E histórias prá contar

Vem passear
Por essas bandas
Lá pelas tantas
Você não vai querer
Mais voltar (pro seu lugar)

Paixão

Tirou-me a paz
Robou-me o sono
Jogou-me na turbulência
Isso não se faz
Me fazer tão consciente
Da sua existência...

Repetição

Cada vez que se conta uma história
Ela acontece de novo
Cada vez que se nota uma saudade
A pessoa se vai novamente
Cada vez que se chora uma perda
Ela acontece mais uma vez
Cada vez que se lamenta um sonho perdido
O momento de realizá-lo foge prá nunca mais

Mas o que marca
O que é registrado
Na memória afetiva
De bom e de mau
Assalta, assola
E nunca pede licença

Não peça desculpa
Por sentir
Não se sinta culpado
Por viver
Administre
Se puder

terça-feira, 6 de outubro de 2015

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Showman

Vaidosa que sou
Desci do palco
Para você subir
Ganhou o meu olhar
Está aqui o holofote
Espero na primeira fileira
Joelhos juntos
Mãos nas coxas
Sorriso ansioso
Arranca-me aplausos
Surpreenda-me, poeta!

Paciente

No mosaico
Que compunha
O livro de sua vida
As histórias nunca eram curtas

Nada era alta combustão
Ascensão, domínio e queda
Volta a cinzas, carvão
Fugaz, assim? Não...

Pelo contrário
Extendiam-se por anos
Décadas até
O fogo que parecia extinguir-se
Era sempre uma brasa escondida
Aguardando um soprinho
Do seu interesse

E assim eram
Os loucos que a criaram
E ela amou
Os poderosos que a desejaram
E ela odiou
Os pulguentos que mordiam
E ela dispensou
Os que a tocaram com delicadeza
E ela preservou

Mas, acima de tudo
Aprendeu a esperar
A acreditar no que é belo
Verdadeiramente querido
E não tem pressa em acontecer

domingo, 4 de outubro de 2015

Mulher

O meu poder
Tem formato de pêra
Já abrigou serezinhos
Foi fonte de vida
E amor sem fim

O meu poder
Tem massa cinzenta
Velocidade de raios
Conhecimento adquirido
E soluções de problemas

O meu poder
Tem formato de pétalas
Gosto de maçã
Apelidos bonitos e feios
E causa perseguições infindáveis

O meu poder
Tem curvas derrapantes
Mata fome e apetites
Inspira chegada e acolhimento
E aguarda quem merece

Pausa

Às vezes o cansaço me alcança
Nesta incessante procura
Da melhor versão de mim

A vida me chacoalha
O tempo todo
Numa nauseante alternância
De emoções

Me esvaio em poesia
Desejo sexual
E declarações de amor:
As (bem)ditas
As reais
E as encenadas
Também

Ex-Detento

Liberte-se
De quem você acha que é
Do que você achou sem querer
De quem você considerou um achado
E não era

Liberte-se
Do que lhe foi ensinado
Do ideal que você inventou
Das amarras amargas do passado
Liberte-se da métrica

Liberte-se
Das imagens bonitas da revista
Da competição imbecil com o vizinho
Do que você quer sem saber o motivo
Da obrigação de rimar

Liberte-se e
Dê-se a chance
De encontrar a si mesmo

sábado, 3 de outubro de 2015

Devagar

Que chegue lento
E sem pressa
Sincero
E sem promessa

Que chegue
Quieto
E com calma
E de leve beije-me a alma

Que chegue
Prá dividir
Um momento
Um lençol
Um movimento

Que venha
Adoçar minha poesia
E admirando
Conserve-me a alegria

Que venha
No sopro do vento
Que me invada
O pensamento

Que seja feliz
Em me ter
E que dure
Enquanto valer

Sobre a Natureza Humana

Tem gente que encontra palavras
Sobre sentimentos e desejos
E acerta
Enquanto um vira político
O outro torna-se poeta

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Pedido

Abraça-me
Como se não tivesse
Prá quem voltar
Como se não houvesse
O que temer
Como se não doesse
Se despedir
Como se o ato
Não fosse tolhido

Abraça-me
Como se não estivesse
A me odiar
Como se não atendêssemos a
Nenhum dever
Como se não importasse
O que está por vir
Como se você tivesse
Me escolhido

Como se fosse
A última vez
"Me dá um beijo?"
"Agora, dou"

Fixação

Sou
Seu sonho disforme
Fantasia que dorme
Onde você se desfaz

Sou
Um rabisco tênue
Sua inquietação perene
Viagem fugaz

Sou
Fumaça enganosa
Ilusão amorosa
Desiste, rapaz...

Cansaço

Há muito tempo
Que desisiti
Da perfeição
Há muito tempo
Me contentaria
Com o básico
Um salto
Sem queda
Um pliê sem cãimbra
Uma esperança
Uma trégua
Uma música
Que não desafine

Equilibrista

Nem tudo o que morre
Fecha os olhos
E vai para debaixo da terra
Às vezes, continua a existir
E nos força a lidar
Com as consequências

Nem tudo o que morre
Fecha os olhos
E vai para debaixo da terra
Deixa de existir
Às vezes, continua a reverberar
E nos força a lidar com as reticências

E nessa corda bamba
Entre a loucura e a sanidade
Só nos resta
Abraçar os sonhos dos vivos
Rezar pelos fantasmas
E encarar a ameaça dos mortos-vivos

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Encontro

Ali
Onde o assunto acaba
Ou é interrompido
Ali
Onde seu sussurro
Chega ao pé do meu ouvido
Ali
Onde eu o quero
E você me quer também
Ali
Tem que ser você
E mais ninguém

Início

Pode parecer desinteresse
Mas na verdade
É timidez
Recuo para que me dês
O olhar espontâneo
A atenção não solicitada
Aguardo pacientemente
No seco
Inunda-me...

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Anjo

Não me julgue
Não me enquadre
Não me defina
Não me pare
Não somos feitos
Da mesma matéria
Sou liberdade sem asas
Escolha e ousadia
Pecado e mérito
Não me julgue
Não me conheces
As tentações
Volte para o seu Céu
Que tenho um vasto Inferno
Para provar por aqui...

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Querer (Vôo)

O olhar denuncia
O que mais se quer
Você todo homem
Eu toda mulher

Calminha

Tenha ciúmes não
Divides com o mundo
Só um pouquinho de mim
Um pouquinho de atenção
De ternura
De cuidado
De afeto
De diversão
Mas no final dos dias
(Todos eles)
Meus abraços e beijos
São só teus
Meu amor, meu tesão

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Quase Ousada

Na poesia cabe tudo
Sigamos este pensamento
Cabem menina, moça, freira
Mulher e seu rebento

Cabe contar de trás
Prá frente
Cabem o sincero
E o que mente

Cabem os palavrões
Que sempre calo
Os peitos, a boca
Os pelos e o... pênis

Cabem alegria, tristeza, folia
Sonho, planos e rebeldia

Cabe o amor que não fizemos
Descrevê-lo em seus momentos

Cabe perguntar
"Como é que fica
O tesão e a larica..."








Intriga

Tem algo muito estranho
Nesse seu ego tamanho
Que procura o meu olhar

Tem algo muito doce
Nesse jogo cruel
Ao me manipular

Tem algo de mistério
Nesse quero/não quero
A me intrigar

Tem algo muito certo
Nesse seu jeito errado
De me amar...

domingo, 27 de setembro de 2015

Imbecil

Saiu procurando por mim
Tentando me substituir
Em bebedeiras
Noitadas, baladas
Outras bocas, dinheiro e
Jogos de azar
(Vida torta)
Em outras juras de amor eternas
Voltou com o rabo entre as pernas
(E deu com a cara na porta)

Oceano

Me encontro no fundo
O fundo mais profundo
Onde o silêncio é absoluto
O cheiro é salgado
E os peixes brilham
Sem esforço

Onde a alma é leve
E a água é pesada
Soterra, comprime
Pulmões, ouvidos
E pensamentos

Me encontro no vão
Entre o navio e seus fantasmas
Seus tesouros desperdiçados
Entre o sonho e o pesadelo
Entre o belo e o trágico

Porque no fundo
Lá no fundo
Nunca deixei
E nunca deixarei
De te amar

Querer (Pouso)

Eu quero
Mais que tudo
O pós

Pós começo
Pós meio
E entre
Duas
Ou três

Pós o entre
Entre os olhos
Entre as bocas
Entre as línguas
Entre os dentes
Entre as pernas
O "entre em mim"

Eu quero tudo isso
Mas mais que tudo
Eu quero o pós

O silêncio
O suor
Dos corpos exaustos
Entre os tsunamis
A pausa
A plenitude

sábado, 26 de setembro de 2015

Virtual

Imagino
O teu rosto
Posto que obedeço
Quando quero

Imagino
O teu gosto
Posto que me cheiras
A banquete

Imagino
Tua presença
Posto que te leio
Pelo avesso

Imagino-te
Dentro de mim
Posto que aprecio
O teu gozo

Romântica e Realista

Esse meu amor inocente
Que me faz te olhar sorrindo de longe
E notar o dentinho torto
Que tão raramente aparece

Esse bem-querer carinhoso
Que me faz rezar por você
Toda noite antes de dormir

Essa saudade caladinha
Que me faz inventar desculpas
Para ligar para você

Essa timidez que não me abandona
Me faz tremer dos pés a cabeça
Quando você me olha provocando
Por mais tempo que deveria

Esse fogo que queima meu corpo
Que não vai sossegar
Enquanto eu não sentir
A minha língua passeando no seu

Forte

Há um tanto
A preservar
E outro tanto
A conquistar

Há o que se há de tolerar
E o justo a se restaurar
Há as crianças, os inocentes
E o que não se deve tocar

Busque em sua memória
Meus defeitos e
Minhas qualidades
E tudo do que já fui capaz

Ouça seu instinto
De autopreservação
E repense suas ações
Não traga o meu fogo à tona

Ilimitado

Contigo não me posso
Não me posso dosar
Não me posso parar
Não me posso recuar

Não ouso
Não me dar
Não olhar
Não desejar

Contigo não me posso
Não ceder

Contigo não me posso
Não me posso recusar
Não me posso adiar
Não me posso abrandar

Contigo não posso
Não querer
Não me posso perder
De você

Sonho

Saudades
Do nada que fomos
Porque dentro de mim
Fomos muito

Saudades
De aprender o que você
Gostava em mim
Porque era
O pouco de você
Que permanecia

Saudades
De me ver em seus olhos
Porque eram onde
A melhor parte de mim
Era vista

Saudades da sua sede
De atenção
Do seus planos
Sua visão
Sua loucura no final
Que tanto me preocupou

Saudades da sua imagem
No meu pensamento
Sua voz no meu ouvido
Sua presença etérea
Na minha vida
Saudades da sua sombra

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Doce Sensação

O que nessa vida enternece
É o que acontece
Quando a vida é leve
A corrente de ar
Carregando a pluma
O amanhecer
A paz do silêncio
A pétala que se solta
A folha que cai
O beijo do colibri
O orvalho na rosa
O cheiro da sua barba
O sol na pele de manhã
O sumo do abacaxi
O bater das asas da borboleta
A declaração de amor

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Sintomático

Essa febre
Que invade a pele
E queima a alma

Esse suadouro
Quente e profuso
Que atormenta o sonho

Essa tontura
De falta de juízo
Que tira os pés do chão

Essa salivação
Que embaralha a visão
E lubrifica o bom

Essa dor
De mordida na nuca
Esse ardor
De atrito afoito

Essa paz
De fome afogada
Essa pulsação
De desejo atendido

(Curo a sua palpitação
Em troca de livrar-me
Dos arrepios...)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Vida

Existiram os planos coincidentes
O caminho percorrido a dois
O crescimento, a alegria, as escolhas
Os filhos, a casa, a vida plena

E quem sou eu, afinal
Para dizer que não valeu a pena?

Existe a lembrança boa do tempo
Em que eu acreditei em tudo o que tinha
E a do tapa na cara me acordando
O retorno ao châo, finalmente

Mas quem, afinal, sou eu
Para ser poupada de viver intensamente?

Existiu o tempo ajudando
Seu presente: a cicatrização
Ao lado de amigos preciosos e família
O retorno a mim, a resolução

E quem afinal, sou eu
Prá negar o amor à vida contido neste meu coração?

domingo, 20 de setembro de 2015

Destino

O caminho é longo
Mas os pés não cansam
Os pedregulhos machucam
Mas a dor não fere
O calor é grande
Mas o sorriso não arrefece
Por saber que me esperas
No meu futuro feliz
Meu amor...

sábado, 19 de setembro de 2015

Volúvel

Ele se encostava de norte a sul
E tentava conter o que escorre entre os dedos
Agarrava a minha asa em tentativa vã
De eternizar o que lá, de fato, não existia

E o meu corpo respondia a contento
Como rir quando se sente cócegas
E prolongava o seu tormento
De saber que o coração pertencia a outro

Poucas Palavras

Você não vale o esforço
De escolher certo as palavras
Do discurso que precisa ouvir
Sigo em silêncio
A vida tentará ensiná-lo
Pena que você nunca aprende

Desperdício

Eu teria
Batido a tua alma
Num liquidificador
E tomado aos goles
Igual vitamina
De abacate

Eu teria
Beijado cada centímetro
Do teu corpo
Até me implorares
Prá parar

Eu teria
Invadido o teu pensamento
Todo santo dia
Te desobedecido acintosamente
Para disfarçar
O fato de ser tua escrava

Eu teria
Marcado meu nome na tua história
Sido bênção, tormento
Fonte de vida e glória
Bastava tu ter me querido
Com força suficiente
Covarde...

Dom Quixote

Você
Pedaço de mau caminho
Cavaleiro
Vento
E moinho

Chegou assim
De mansinho
Cordato
Cavalheiro
Meu vizinho

Não economizou
No carinho
Se apossou
Do meu coração
Todinho

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Notícia

Ali eu morri
Vi a ficha cair
A verdade que eu negava

Ali eu parti a moleira
Na beira do bidê
Ali eu caí das nuvens
A que meu sonho tinha me alçado

Ali eu revi que o que não éramos
Nunca mais seríamos
Ali eu morri e para meu azar
Não deixei de respirar

domingo, 13 de setembro de 2015

Antagônica

Tive que te mandar embora
Puro instinto de preservação
Eras meu amor, meu desejo, meu tudo
Salvamento e danação

Havia aquela linha invisível
Tênue, forte e sutil
De teia da aranha que nem se esforçou
Lançou-a num olhar viril

E em tuas mãos eu teria sido
Um fantoche feliz a cantar
Bailarinazinha dentro da caixa
Te esperando me fazer dançar

Boneco de ventríloquo
Sombra a te acompanhar
Eu me desfaria em ti
Viveria em nome de te amar

Desculpa, querido
Não pude arriscar
Foi muito forte, deu medo
Só te resta me perdoar


sábado, 12 de setembro de 2015

Serventia

A poesia é minha
E eu faço das palavras
O que eu bem quiser

Posso levá-las prá beira do rio
Ensaboar com sabão de gordura de porco
E batê-las contra a pedra até puir
Enxaguar, torcer, pendurar
Ou colocar prá quarar

Também posso levá-las ao salão
Mandar pintar-lhes as unhas
Alisar os cabelos e
Fazer massagem relaxante

Hoje eu só quero usá-las
Prá mandar uma mensagem de amor
Tua lembrança me pega de surpresa
Dói no peito, lateja, dilacera
Enverga a minha alma
A vida ainda é boa
Mas contigo era melhor

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Apaixonados

Voávamos por céus diferentes
Direções diversas
E às vezes
Correntes de ar opostas

Ele intuía vagamente
Sorria debochado
Desdenhando
Devia ter concorrência

Mas seguia tranquilo
Nos afazeres
Tão seguro era
Senhor de competência

Porque a noite era imbatível
Linda, calma e previsível

Não importava a distância percorrida
Tão certo era
Que estaríamos de volta
Prás nossas gaiolas
De braços e pernas


PS: Me chamava de "senhora minha"
Fingia que obedecia
Mas me tinha todinha

Otimista

O poeta segue louvando
A beleza das asas da borboleta
Como se não fossem frágeis
A liberdade do vôo dos pássaros
Como se não fosse perigoso

O encanto das cores da cauda do pavão
Como se não fosse vaidade
A força das águas da cascata caudalosa
Como se não fosse violência

A vastidão do azul do mar
Como se não fosse mistério
A alegria inquietante dos amantes
Como se não fosse ilusória

A presença da saudade
Como se não fosse dor
A inocência das crianças
Como se não estivesse condenada

A força da paixão
Como se não fosse praga
A chegada da morte
Como se fosse desejável

E a existência do amor verdadeiro
Como se fosse viável

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Édipo

Um dia ele me confessou.
O gato (Harry) não tinha viajado para muito longe porque se apaixonou e queria namorar.
Os vizinhos tinham envenenado o Harry com chumbinho e ele o encontrou morto. Duro e fedido.
Foi a única mentira do meu pai que não me decepcionou. Ao contrário, me fez amá-lo ainda mais.

Pergunta

Sonhei o teu sonho
Bebi tua saliva
Lambi o teu corpo
Viciei na tua atenção
Aquela intensidade
Aquele amor em vastidão

Acolhi a tua vaidade
E massageei o teu ego
Dividi o meu tempo
Dei-me a ti de presente
Rearranjei teus pensamentos
Acalmei os teus ânimos
Administrei os meus tormentos

Tu que sempre me ensinaste
Tu que estiveste ao meu lado
Tu que imploraste minha presença
Tu que me prometeste tanto
Me fizeste tão querida
Diga-me agora: sem ti
O que fazer da minha vida?

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Pecadora

Teu corpo
Minha capela
Pela qual
Ajoelho
E rezo
Até chorar

Teu desejo
Meu mandamento
Me conduz
Me tortura
Até eu
Não mais aguentar

Tua saliva
Minha água benta
Me mata a sede
Pia batismal
A me embriagar

Teu amor
Minha danação
Me pune
E redime
Até pro Céu
Me levar

Miragem

Curtas as pernas
Das suas palavras
Longa a língua
Peçonhenta que fere

Curta a história
Do amor mentido
Longo o alcance
Da minha verdade

Muito fosco
Prá ser ouro
Miou demais
Para passar
Por lebre

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Globalizada

O alemão boa pinta prometeu um beijo francês no restaurante italiano. Ela entrou para o Curso Preparatório Básico de Massagem Tailandesa. Mas ele visualizou e não respondeu, e depois justificou-se dizendo que estava ocupado a comer chucrute. Ela mandou-o à sh#t, com seu inglês carregado de sotaque brasileiro, que ele tanto gostava.
True fictional story.

Um dia desses

Ela acordou bem cedo e foi malhar. O espelho comprovou que os abdominais estavam surtindo efeito. Depois, foi à reunião da escola das crianças. Comportamento exemplar, notas ótimas. Congratulou-se intimamente pela disciplina exigida. Almoçou uma salada de alface, rúcula e tomate. Mais tarde, sorriu ao ouvir da dentista: "escovação perfeita!" No ginecologista, exames laboratoriais 100 % normais. Mas decidiu cancelar a consulta com o psiquiatra. O dia estava maravilhoso, não queria falar sobre o seu TOC.

Cafajeste

Um dia, cheguei pela manhã, para tomarmos café juntos, e ele estava bravo comigo.
Perguntou-me se eu tinha deixado um recado escrito em batom no espelho de propósito.
Eu respondi que sim.
Ele me disse que não tinha lido, e foi descoberto por outra pessoa.
Fiquei piscando, olhando para ele sem entender qual era o problema.
Aí ele sacou um lacinho de cetim, que eu reconheci como sendo de uma calcinha minha.
"E isso aqui? Descolou sozinho?"
Também sem entender, respondi que provavelmente, porque eu não tinha nem me dado conta de que não estava mais lá.
Ele olhou furioso para mim, e deu de cara com o rosto da inocência.
Percebeu o erro, e acabou confessando, depois de pressionado: achou que eu era a namorada dele que sabia da outra namorada e o estava sacanenando.
Mas eu era a que não sabia.
Éramos três, ao todo.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Aliança

Não é o que eu sou
Não é o que ficou
Não são as histórias em comum
Não são as fotos dos álbuns

São, sim, o sonhos divididos
E as palavras trocadas
Em momentos únicos

São as paisagens que duas almas
Vislumbraram ao mesmo tempo
E as passagens secretas
Entre os dois corações

É isso que me faz confiar em ti
E no que há de mim
Aí dentro

É isso que nos atrai e mantém
E torna tu e eu
Simplesmente e sempre "nós"

Só meu

O meu canto
Tem almofada
Tem manto
Tem cortina
Tem pilha
De livro

A minha sala
É arejada
É preparada
Tem souvenirs
E sofás
E uma paz
Para descansar

O meu lugar
Tem meu cheiro
Minha luz
Acolhe
Quem gosto
E me seduz
Meu lugar
De amar

Otalgia

Sua voz
Me chega à orelha
Invade meus condutos
Eletriza os meus internos

Bate em martelo, bigorna
Perco as estribeiras
Atinge o cérebro queimando

Mas altera mesmo
É o labirinto
Perco o equilíbrio
E o rumo

Tudo roda e embaralha
Me apóio em você
Meu norte
Meu mastro forte

domingo, 30 de agosto de 2015

Doce Dama

Não bastasse o rosto maravilhoso
A tez alva perfeita
A boca linda e desenhada
Os dentes afilados pelos deuses

Tinha a doçura nas palavras
E os sonhos das borboletas
As mão delicadas de porcelana
E a mágica das bailarinas

O toque do cetim na pele
O busto das damas antigas
A certeza da retidão do espírito
A bondade das almas caridosas

Tão acima deste nível estava
Que por aqui muito tempo não desperdiçou
Foi morar junto aos quais pertencia
Foi preparar a nova morada do nosso amor


Nostalgia

Ontem
Contei prá moça
Histórias de você
De nós
Dos nós
Do encanto
E do desejo

Quanta saudade
Do bom
Do ruim
E do mais ou menos

Ontem a moça entendeu
Porque o conhecia bem
E fez sentido
Você ter sido tão você
E eu ter sido leal a mim

Ontem a moça me fez rir
E não me viu chorar
Você é o único no mundo
Que me faz querer
Ao passado voltar

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Near miss

Faltou dizer que o amava na sua cara
Para ver a sua reação
Mas você escolheu não estar lá
Eu escolhi escrever
E nunca soube se você leu

Faltou beijar a sua boca
Porque você reproduziu a oportunidade
Mas o destino escolheu nos afastar
E você escolheu não insistir

Faltou você me alcançar na hora certa
Mas o ato falho trocou os números
Faltou eu dizer que não estava brava
Estava apenas sofrendo por saudade
Porque você escolhia ficar na dúvida

Faltou a gente apostar na gente
Porque você foi covarde
E eu fui orgulhosa
Porque eu não quis viver a nossa história
Nos seus termos
E você escolheu não saber os meus

Faltou você me dizer o que sentia
Ao invés de me pedir prá voltar sempre
Faltou eu não tremer e gaguejar
E você me encarar como uma possibilidade

A lista do que faltou foi longa
Só não faltou amor meu por você
Mas amor unilateral
Não é capaz de construir ponte
Faltou o ponto final

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Sedução

Começa-se localizando um ao outro de longe
O discreto levantar da sobrancelha direita - "oi!"
As promessas feitas em palavras e olhares ao longo de meses
"De hoje não passa" - ele me diz ao inclinar a cabeça para a direita
A cumplicidade de quem reconhece seus maiores vícios no outro
E também a mesma razão de viver
A aliança de dois querendo ser felizes
A química certa de dois iguais

O tempo passa e o evento acaba
A sala esvazia-se devagar
Ele me traz uma taça
E senta-se ao meu lado
Um brinde ao "finalmente sós"
Seu olho esquerdo cintila
Olho para suas mãos e sinto um arrepio
A atenção é desviada para os lábios
Saliva-se e não é pelo vinho tinto

Em pouco tempo tenho que olhar para cima
Para encontrar seus olhos
O salto alto foi deixado perto da porta
Mas o paraíso começa mesmo
Quando nenhuma renda escolhida a dedo
Cobre mais a minha pele branca
Pressiono o seu peito peludo com a ponta do meu pé direito
Ele segura as minhas canelas me condenando e sorri...

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Carta ao Próximo

Tenho guardados
Prá você
Meu amor
Minha canção
E um monte de rimas
Que terminam com "ão"

Um sorriso
Uma olhadinha
De lado
Um emoticon
Para sexo
Cujo significado
Só nós saberemos

Uma receitinha
De frango
Da minha avó
E os telefones
Das melhores
Entregas de
Marmitex da cidade

Um caldeirão
De carinho
Uma risada sincera
Cuidados ao adoecer
Extendidos
Aos que você ama

Só não demore muito
Porque apesar
De não o conhecer
Sinto saudades
E curiosidade
(Vou desembrulhá-lo
Como o presente
Que você vai ser)

;)



Desapego

Hoje eu acordei
Cansada de ser tua
De abrir a ferida
Pela manhã
E lambê-la na noite
Como se tivesse
O sabor da tua saliva

De rever nossa história
E namorar nossas fotos
Ouvir nossa música
Como se tivesses sabido

Exaurida de lamentar
Suas escolhas horrorosas
E preencher o vácuo
Com cenas do que não houve

Hoje acordei exausta
E te vi transparente
Como se fantasma fosses
Tão longe e tão perto
De voltar a ser nada
Porque Deus separou
O que o homem não uniu

domingo, 23 de agosto de 2015

Limitado

Olhou as flores
Com curiosidade
Mas cheio
De daltonismo

Colheu-as
Com pressa e
Sem cuidado
As destruiu

Pegou uma pétala
E a estudou
Com a anosmia
E má vontade
Peculiares

Colocou na boca
E cuspiu
Naquela má absorção
Naquele desperdício

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Uma Vez por Vida

Ele chegou numa rufada
De vento
O diabo me sussurou
"Queira!"
E eu obedeci

Olhou para mim
Com curiosidade
E meu coração decidiu:
Era hora de transfusão

Ele sangrou
Até quase morrer
E se ofereceu
Numa noite

Salivei e suei frio
Mas um anjo me avisou
"Recuse"
E eu novamente obedeci

Porque nada
Seria suficiente
Nada aplacaria
A sede até seu
Desfalecimento
Em meus braços
Meu arrependimento

E assim deixei passar
Ficou o gosto
Dos momentos roubados
E a dúvida
Se um dia haverá
Outra experiência
De tal dimensão e força
(Duvido...)

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Maria Célia

Aquele caminho
Que tive
Que percorrer
Sozinha e
Caiu-me como luva
Era tudo o que
Desejaste
Para ti

Te enchia
De tristeza
Ver meus pés
Sangrando
E me costuravas
Sapatos
Chorando

Aquela sina
Que adivinhaste
Quando nasci
Era minha
Só minha
Mas admiravas
A minha capacidade
De ser feliz

Porque compartilhamos
Genética
Mas não alma
Porque sou
Tão diferente
De ti

Tão mais serena
Tão mais centrada
Porque tive o teu amor
De mãe
E não tiveste nenhum

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Pedido

Conta prá mim se você ainda lembra de nós todo dia
Se ainda fala de mim pros nossos amigos
Se as pessoas que nos importam ainda o lembram da nossa missão

Conta prá mim quantas vezes você teve saudade
E quantas quis estar ao meu lado novamente
Quantas vezes fechou os olhos e conversou comigo
Em pensamento

Que eu conto prá você que quem me ama menciona o seu nome como se lesse ou
Pressentisse meu universo em sentimento

Que não passou ainda um dia em que você não existisse
Em que algo não me lembrasse
E eu não sentisse a sua falta

Um dia eu contarei o número de passos que me levarão de volta para você
E perderemos a conta dos beijos e abraços que nos farão felizes

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Aborto

Você partiu
Antes de morrer
Dentro de mim

Sem espéculo
Sem vácuo
Sem agulha de crochê

As dores
As contrações
A decepção

Restos de placenta
E lágrimas
Me desidratam

No nascimento
Do natimorto
Aquela amor-ragia

Por do sol

Ali, naquele limite indefinido
Entre a minha saliva e o teu mar
Entre o teu fogo e o meu inferno

Paira toda a escuridão da dúvida
Sobre o intuito de tudo isso
Se não é amor para quê a intensidade
Se não é erro por que o medo

No teu perfil orgulhoso pouso o meu beijo perfumado de carinho
No teu peito deixa de bater a minha razão de existir

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

(In) De(i)scrição

Ele tinha
Os defeitos
E o gosto
Do que
Eu engulo
Dos homens
Quando amo

E as qualidades
Expostas
Em cauda
De pavão
Que eu
Nunca soube
Se eram
Reais ou não

Arrancava
A minha
Calcinha
Nos dentes
Mastigava
Minha jugular
Entre os
Caninos perolados
E acariciava
As minhas coxas
Com a barba

Hoje sua
Mão esquerda
Envolve
Meu coração
E aperta
Em angina
Num espasmo
De melancolia e
De saudade
Da sua voz
E da atenção

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Frustração

Quero que você
Ainda seja
Que exista
Que esteja
Esperando por mim

Seja lá onde for
Seja lá quando
Ou através de
Qual caminho

Pelas respostas
Não dadas
As vontades
Mal fadadas

O apodrecimento
Prematuro
Do que nem
Amadureceu

Machismo

"Malandro"
É cara esperto
"Vadio"
É bon vivant
"Touro"
É poderoso
"Safado"
É engraçadinho

"Malandra"
É ofensa
"Vadia"
É excomungação
"Vaca"
É ruim demais
"Safada"
É esculhambação

O homem só
Não pode ser
Corno ou brocha
O resto das
Exigências
Fica prá mulher
(A fogueira
Ainda acesa)

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Duradouro

Enquanto eu pensar em você
Sentirei saudade
Passarei vontade
Falarei de amor

Enquanto você está
Aqui dentro bem cuidado
As lembranças seguirão comigo
Aonde eu for

Enquanto a lágrima não seca
Seu lindo nome ecoa
Nos meus sonhos
Eu quero ouvir sua voz de novo

Enquanto você for
O homem que eu mais amei
Nossa história
Minha memória
São nossas
E de mais ninguém


Cardiológica

Nâo culpe o coração
Pelos seus sonhos
Desatinos
Desvairios

Ele está lá
Quietinho
Obedecendo
Batendo e
Apanhando
De acordo com
As suas decisôes

Você pode
Contar com ele
Até o último
Dia da sua vida
Cuide bem
Deixe-o em paz

Não culpe o coração
Pela tara
Pela larica
Pela paixão

Culpe antes
O cérebro
E seu sistema límbico
Ou os olhos
(Procure um oftalmologista)

sábado, 8 de agosto de 2015

Desperdícios

Morrer
Cedo
Jovem e
Produtivo

Viver
Sem aprender
A amar
Nem ao
Próprio
Filho

Flores
Belas e
Colibris
E abelhas
Sem asas

Inteligência
E loucura
Incapacitante
Na mesma
Pessoa

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Mal Me Quis

Aquele pedido
Mal dito
Aquele beijo
Mal dado
Aquele descaramento
Mal vindo
Aquela história
Mal aventurada

Aquela uva
Mal comida
Aquela mexerica
Mal descascada
Aquele orgulho
Mal quisto
Aquele desejo
Mal entendido

Aquele rumores
Mal vistos
Aquele querer
Mal olhado
Aquele sentimento
Mau presságio
De amor verdadeiro
Mal vivido

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Gourmet número 2

Meu musos revezam-se
Tiram-me da inércia
Causam redemoinho
Às vezes no sentido horário
Às vezes no anti
Às vezes contra a borda
Os aromas variam
Os temperos também
As emoções alternam-se
Surpreendem, arrebatam
Aceleram ou até
Param o coração
Mas nessa cozinha
(Fique bem claro)
A colher é deles
Mas o caldeirão
E o que vai dentro dele
É tudo meu

Paladar

Enquanto casadoira
Ela procurava
"Baunilha"

Estável
Previsível
"De família"

Crescidos os filhos
Tá que não
Se aguenta!

Que baunilha o quê!
Quer é chocolate
E com pimenta!

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Doce Lar

Um sentimento
Me invade
Ao chegar
No meu bairro
Quando o carro
Dobra a esquina

Mistura de alívio
E alegria
Porque chego
Ao que pertenço
Aos meninos
E à menina

Ali tem gatos
Meus sapatos
Meus livros
E quinquilharia

Meu domínio
Minha família
Meu ninho
Minha ilha

Onde tudo
É administrável
E contornável
Mesmo que
Imprevisível

Porque a balisa usada
Até na hora da dor
É o meu mais
Verdadeiro e
Incondicional amor

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Populares

Quem inventou
"Manda quem pode
Obedece quem deve"
Não conheceu
A nossa história

Quem disse
"Prá bom entendedor
Meia palavra basta"
Teria se espantado
Com a nossa comunicação
De silêncios

Quem acredita que
"Melhor um pássaro na mão
Do que dois voando"
Não conheceu as penas
Que víamos um no outro

Quem acha que
"Água mole em pedra dura
Tanto bate até que fura"
Soube da fluidez
Da sua teimosia
Mas não da dureza
De tudo o que eu quero

Quem concorda que
"Ninguém é insubstituível"
Nunca sentiu
O meu amor por você
(Hoje teria sido um bom dia
Para você ainda estar
Jogando no meu time)

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Criminoso

Eu tinha cinco aninhos
O homem era sozinho
Nem uma única pessoa
Para amá-lo
Ou lhe fazer companhia
E eu morria de pena

Um dia os pais descobriram
O homem era um pedófilo
A minha mãe me explicou
O que a palavra significava
E eu morri de raiva
De ter morrido de pena

domingo, 2 de agosto de 2015

Rata

Parabéns
És a escolhida
Da vez

Vou te olhar
E te querer muito
Te pegar desprevinida
Pelo cangote

Morder até te ver
Fechar os olhos
E perder o fôlego

Te jogar para cima
E ver-te cair
Sem piedade

E quando
Estiveres sem força
E te achares
(Ou fingires)
De morta

Sairei sem fazer baruho
Para que te sintas segura
E penses que voltaste
Ao normal

Estarei à espreita
Atrás da almofada
Esperarei
O tempo que precisar

Na hora
Que te levantares
E tentares
Sair de fininho
Engolirás a seco
Ao sentir
A minha pata pesando
No teu rabinho


sábado, 1 de agosto de 2015

Para a Moça

Moça querida
Que a tua vida
A partir de hoje
Seja uma larga avenida
Na qual desfilam
Em escola de samba
Teus amigos
E família
E com alegria
Celebrem
A pessoa maravilhosa
Que és

Que a música deles
Retumbe
No compasso
Do teu querer
E a tua boa fama
Chegue antes
Nos lugares
Que escolher

Que o pavimento
Tenha a quantidade
Suficiente de atrito
Para ser agradável
Caminhar
Mas evite escorregões
Enquanto passas descobrindo
O melhor que a paisagem
E a companhia têm a dar

Que haja em cada esquina
Uma casa acolhedora
De portas abertas
Para seu descanso
Um remanso
Após a jornada
Repleta de descobrimentos
Alunos e sorrisos

E que no destino final
Em que essa avenida desembocar
Haja saudades de boas memórias
E sempre o gosto de vitória
Que só tem quem sabe amar

Feliz aniversário, Cláudia Dominguez!



sexta-feira, 31 de julho de 2015

Cume

A essa altura
Você já devia ter
Tecido planos
Para nós
E agido de acordo

A essa altura
A vista é linda
O sol é quente
Mas a queda
É fatal

A essa altura
O pé no lugar errado
A mão que falseia
O equipamento que falha
Detona a avalanche

A essa altura
O cérebro não funciona
Porque o oxigênio
Já rareou demais
Embriagou

A essa altura
Você percebe que
Deveria ter descido
No ponto
Que eu mandei

Carta ao Primogênito

Eu queria que ainda fosse simples
Colocar o peito para fora e amamentar
Colocá-lo de pezinho para arrotar
Trocar fralda e o ninar

Eu queria que o amor fosse divisível
Que as pessoas o olhassem
Com só uma fração do meu
Já bastaria para lhe darem sossego
Já bastaria para acalmar nosso coração

Eu queria que houvesse uma fórmula
De transferência de aprendizado
De abrir ouvidos ainda imaturos
Para o que serve e rearranja
Os sentimentos bagunçados pelos hormônios

Eu queria evitar o inevitável
As dores de crescimento pelas quais passa
A carga que é ser inteligente
Perfeccionista e sensível demais

Só me resta lidar com a tempestade
Da maneira mais calma que eu conseguir
Amar você sem limites é espontâneo
Segura a minha mão quando tiver vontade
Prometo que não é prá sempre
Um dia o sol volta a brilhar

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Femme

Menina
Mimada
Maldita
Faça de mim
Tua morada
Mexa
Molde
Magnifique
Porque estive
Aos teus pés
Desde o primeiro dia

Princesa
Puta
Principiante
Penetre nos meus sonhos
E os torne pesadelos
Parta sem pudor
Pense que podes tudo
Porque quero mais é morrer
Torturado na tua
Penitenciária

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Embriaguez

Ele tinha o passado mais negro
Que os bombons de chocolate amargo
Que me mandava às dúzias
E os beijos gosto de licor de laranja
Mais doces e alcoólicos do mundo
Cítrico

Me olhava como um predador
Me cercava como a uma novilha
Mas era cavalheiro e delicado
E me acusava de estragar tudo
"Frígida"

Me ensinava, guiava. corrigia
Resolvia quando eu mais não podia
Me punia por não bajulá-lo
Parava de responder às mensagens
Patético

Aventurava-se em outros olhares
Afastava-se mas não deletava
Tentava me resolver
Como a um cubo mágico
Irritava-se mas não desistia
Cínico

Nunca se libertou
Nunca tentou de verdade
Nunca negou a sintonia
Sempre voltou carinhoso
Para nossa maior alegria
Tântrico

Consequências

E já que ela era feliz
Perdeu o direito de reclamar
Já que era flexível
O de escolher
Já que era prática
Os problemas
Ficavam por sua conta
Já que era mulher
As crianças também
Já que ela era responsável
Pagava as contas
Já que era saudável
Carregava o mundo
Em suas costas
Já que ele era um estorvo
Foi convidado a se retirar

terça-feira, 28 de julho de 2015

To Be

Enquanto fomos
Éramos
O casal
Extra...
...ordinário

Quando deixamos
De ser
Passamos
A eu e você

Percebi
Amarga
Que caí
No conto
Do vigário

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Autoajuda

Às vezes
A gente se dá
Um carinho
Um afeto
Um perdão

Às vezes
A gente se dá
Uma bronca
Um alerta
Um "presta atenção"

Às vezes
A gente se dá
Um presente
Um agrado
Uma gratificação

Às vezes
A gente se dá
A quem não merece
Mas logo esquece
Quem prá gente
Já nada diz

Porque no fundo
No fundo
Tudo o que a gente
Quer se dar
É a chance de ser feliz

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Equilíbrio

Me encanta
A falta de pressa
A paciência do plantio
Do cuidado e da espera
Até a hora certa de colher

Me encanta quem vive
A expectativa serena
De quem sabe lidar
Com possíveis decepções

Me encanta quem conserta
Antes de descartar
Quem dá chances
Ao que vale a pena
E não se desespera
Nem lamenta decisões
Bem tomadas nas situações
Conforme se apresentaram

Me encanta quem pára
E pensa antes de agir
Não se entrega aos ímpetos
E nem por isso
Deixa de sentir

E mesmo sabendo
Que a morte espreita
E leva sem aviso
Lembra que todo sofrimento
Desnecessário e previsível
Deve ser evitado
Que a consequência às vezes
É mais intensamente negativa
Do que o prazer do momento

Me encanta quem sabe discenir
"Isso é prá mim, isso não é"
Muito antes de quebrar a cara
E nem por isso deixa de viver
E ser feliz

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Irmãos

Fomos cinco
Mas só um
Foi irmão

Porque um foi pai
Os outros dois
Foram filhos

Éramos cinco
Como os dedos
Das mãos

E ele não poderia
Ser mais diferente
De mim

No desapego
Ao conforto
Na calmaria
Do coração

Não o perco de vista
Nem ele a mim
Meu carinho
Meu surfista
(Henrique Franco)

Projeto

Eu quero
O que acrescenta
O que brilha
O que me faz luzir

O que torna
A vida mais leve
E a poesia
Mais romântica

O que surpreende
Me faz querer
Ficar acordada
Para ser feliz
Mais um pouquinho
De tempo

Eu quero
Quem me faz sorrir
Me faz rir até
Dar cãimbra na barriga
E me faz esperar
Com alegria
A próxima vez

A lista do que eu não quero
É muito mais longa
E a do que tenho a oferecer
É três vezes maior

terça-feira, 21 de julho de 2015

Poeminha

Te espero no mesmo banco
Coração em solavanco
Passa tudo
Passa o tempo
Só não passa
O sentimento
Vejo as flores
O sol me esquenta
A esperança
Me alimenta
Muitos versos vou criar
(Não têm fim)
Esperando você chegar
Prá sorrir só prá mim

Cena

Ele sentado numa margem do rio
Ela de pé na margem oposta
À esquerda a ruína da ponte
Que ele mandou construir
E nunca conseguiu atravessar
À direita o lugar do naufrágio
Do barquinho que ela pagou para buscá-lo

Chove
Molham-se
E não se importam
É bom
Prá disfarçar as lágrimas

Ela culpa a esperança que morreu
E não levou o querer junto

E eu não sei como terminar esse poema
Porque é muito forte
E nenhum dos dois consegue imaginar um fim