domingo, 30 de agosto de 2015

Doce Dama

Não bastasse o rosto maravilhoso
A tez alva perfeita
A boca linda e desenhada
Os dentes afilados pelos deuses

Tinha a doçura nas palavras
E os sonhos das borboletas
As mão delicadas de porcelana
E a mágica das bailarinas

O toque do cetim na pele
O busto das damas antigas
A certeza da retidão do espírito
A bondade das almas caridosas

Tão acima deste nível estava
Que por aqui muito tempo não desperdiçou
Foi morar junto aos quais pertencia
Foi preparar a nova morada do nosso amor


Nostalgia

Ontem
Contei prá moça
Histórias de você
De nós
Dos nós
Do encanto
E do desejo

Quanta saudade
Do bom
Do ruim
E do mais ou menos

Ontem a moça entendeu
Porque o conhecia bem
E fez sentido
Você ter sido tão você
E eu ter sido leal a mim

Ontem a moça me fez rir
E não me viu chorar
Você é o único no mundo
Que me faz querer
Ao passado voltar

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Near miss

Faltou dizer que o amava na sua cara
Para ver a sua reação
Mas você escolheu não estar lá
Eu escolhi escrever
E nunca soube se você leu

Faltou beijar a sua boca
Porque você reproduziu a oportunidade
Mas o destino escolheu nos afastar
E você escolheu não insistir

Faltou você me alcançar na hora certa
Mas o ato falho trocou os números
Faltou eu dizer que não estava brava
Estava apenas sofrendo por saudade
Porque você escolhia ficar na dúvida

Faltou a gente apostar na gente
Porque você foi covarde
E eu fui orgulhosa
Porque eu não quis viver a nossa história
Nos seus termos
E você escolheu não saber os meus

Faltou você me dizer o que sentia
Ao invés de me pedir prá voltar sempre
Faltou eu não tremer e gaguejar
E você me encarar como uma possibilidade

A lista do que faltou foi longa
Só não faltou amor meu por você
Mas amor unilateral
Não é capaz de construir ponte
Faltou o ponto final

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Sedução

Começa-se localizando um ao outro de longe
O discreto levantar da sobrancelha direita - "oi!"
As promessas feitas em palavras e olhares ao longo de meses
"De hoje não passa" - ele me diz ao inclinar a cabeça para a direita
A cumplicidade de quem reconhece seus maiores vícios no outro
E também a mesma razão de viver
A aliança de dois querendo ser felizes
A química certa de dois iguais

O tempo passa e o evento acaba
A sala esvazia-se devagar
Ele me traz uma taça
E senta-se ao meu lado
Um brinde ao "finalmente sós"
Seu olho esquerdo cintila
Olho para suas mãos e sinto um arrepio
A atenção é desviada para os lábios
Saliva-se e não é pelo vinho tinto

Em pouco tempo tenho que olhar para cima
Para encontrar seus olhos
O salto alto foi deixado perto da porta
Mas o paraíso começa mesmo
Quando nenhuma renda escolhida a dedo
Cobre mais a minha pele branca
Pressiono o seu peito peludo com a ponta do meu pé direito
Ele segura as minhas canelas me condenando e sorri...

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Carta ao Próximo

Tenho guardados
Prá você
Meu amor
Minha canção
E um monte de rimas
Que terminam com "ão"

Um sorriso
Uma olhadinha
De lado
Um emoticon
Para sexo
Cujo significado
Só nós saberemos

Uma receitinha
De frango
Da minha avó
E os telefones
Das melhores
Entregas de
Marmitex da cidade

Um caldeirão
De carinho
Uma risada sincera
Cuidados ao adoecer
Extendidos
Aos que você ama

Só não demore muito
Porque apesar
De não o conhecer
Sinto saudades
E curiosidade
(Vou desembrulhá-lo
Como o presente
Que você vai ser)

;)



Desapego

Hoje eu acordei
Cansada de ser tua
De abrir a ferida
Pela manhã
E lambê-la na noite
Como se tivesse
O sabor da tua saliva

De rever nossa história
E namorar nossas fotos
Ouvir nossa música
Como se tivesses sabido

Exaurida de lamentar
Suas escolhas horrorosas
E preencher o vácuo
Com cenas do que não houve

Hoje acordei exausta
E te vi transparente
Como se fantasma fosses
Tão longe e tão perto
De voltar a ser nada
Porque Deus separou
O que o homem não uniu

domingo, 23 de agosto de 2015

Limitado

Olhou as flores
Com curiosidade
Mas cheio
De daltonismo

Colheu-as
Com pressa e
Sem cuidado
As destruiu

Pegou uma pétala
E a estudou
Com a anosmia
E má vontade
Peculiares

Colocou na boca
E cuspiu
Naquela má absorção
Naquele desperdício

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Uma Vez por Vida

Ele chegou numa rufada
De vento
O diabo me sussurou
"Queira!"
E eu obedeci

Olhou para mim
Com curiosidade
E meu coração decidiu:
Era hora de transfusão

Ele sangrou
Até quase morrer
E se ofereceu
Numa noite

Salivei e suei frio
Mas um anjo me avisou
"Recuse"
E eu novamente obedeci

Porque nada
Seria suficiente
Nada aplacaria
A sede até seu
Desfalecimento
Em meus braços
Meu arrependimento

E assim deixei passar
Ficou o gosto
Dos momentos roubados
E a dúvida
Se um dia haverá
Outra experiência
De tal dimensão e força
(Duvido...)

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Maria Célia

Aquele caminho
Que tive
Que percorrer
Sozinha e
Caiu-me como luva
Era tudo o que
Desejaste
Para ti

Te enchia
De tristeza
Ver meus pés
Sangrando
E me costuravas
Sapatos
Chorando

Aquela sina
Que adivinhaste
Quando nasci
Era minha
Só minha
Mas admiravas
A minha capacidade
De ser feliz

Porque compartilhamos
Genética
Mas não alma
Porque sou
Tão diferente
De ti

Tão mais serena
Tão mais centrada
Porque tive o teu amor
De mãe
E não tiveste nenhum

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Pedido

Conta prá mim se você ainda lembra de nós todo dia
Se ainda fala de mim pros nossos amigos
Se as pessoas que nos importam ainda o lembram da nossa missão

Conta prá mim quantas vezes você teve saudade
E quantas quis estar ao meu lado novamente
Quantas vezes fechou os olhos e conversou comigo
Em pensamento

Que eu conto prá você que quem me ama menciona o seu nome como se lesse ou
Pressentisse meu universo em sentimento

Que não passou ainda um dia em que você não existisse
Em que algo não me lembrasse
E eu não sentisse a sua falta

Um dia eu contarei o número de passos que me levarão de volta para você
E perderemos a conta dos beijos e abraços que nos farão felizes

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Aborto

Você partiu
Antes de morrer
Dentro de mim

Sem espéculo
Sem vácuo
Sem agulha de crochê

As dores
As contrações
A decepção

Restos de placenta
E lágrimas
Me desidratam

No nascimento
Do natimorto
Aquela amor-ragia

Por do sol

Ali, naquele limite indefinido
Entre a minha saliva e o teu mar
Entre o teu fogo e o meu inferno

Paira toda a escuridão da dúvida
Sobre o intuito de tudo isso
Se não é amor para quê a intensidade
Se não é erro por que o medo

No teu perfil orgulhoso pouso o meu beijo perfumado de carinho
No teu peito deixa de bater a minha razão de existir

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

(In) De(i)scrição

Ele tinha
Os defeitos
E o gosto
Do que
Eu engulo
Dos homens
Quando amo

E as qualidades
Expostas
Em cauda
De pavão
Que eu
Nunca soube
Se eram
Reais ou não

Arrancava
A minha
Calcinha
Nos dentes
Mastigava
Minha jugular
Entre os
Caninos perolados
E acariciava
As minhas coxas
Com a barba

Hoje sua
Mão esquerda
Envolve
Meu coração
E aperta
Em angina
Num espasmo
De melancolia e
De saudade
Da sua voz
E da atenção

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Frustração

Quero que você
Ainda seja
Que exista
Que esteja
Esperando por mim

Seja lá onde for
Seja lá quando
Ou através de
Qual caminho

Pelas respostas
Não dadas
As vontades
Mal fadadas

O apodrecimento
Prematuro
Do que nem
Amadureceu

Machismo

"Malandro"
É cara esperto
"Vadio"
É bon vivant
"Touro"
É poderoso
"Safado"
É engraçadinho

"Malandra"
É ofensa
"Vadia"
É excomungação
"Vaca"
É ruim demais
"Safada"
É esculhambação

O homem só
Não pode ser
Corno ou brocha
O resto das
Exigências
Fica prá mulher
(A fogueira
Ainda acesa)

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Duradouro

Enquanto eu pensar em você
Sentirei saudade
Passarei vontade
Falarei de amor

Enquanto você está
Aqui dentro bem cuidado
As lembranças seguirão comigo
Aonde eu for

Enquanto a lágrima não seca
Seu lindo nome ecoa
Nos meus sonhos
Eu quero ouvir sua voz de novo

Enquanto você for
O homem que eu mais amei
Nossa história
Minha memória
São nossas
E de mais ninguém


Cardiológica

Nâo culpe o coração
Pelos seus sonhos
Desatinos
Desvairios

Ele está lá
Quietinho
Obedecendo
Batendo e
Apanhando
De acordo com
As suas decisôes

Você pode
Contar com ele
Até o último
Dia da sua vida
Cuide bem
Deixe-o em paz

Não culpe o coração
Pela tara
Pela larica
Pela paixão

Culpe antes
O cérebro
E seu sistema límbico
Ou os olhos
(Procure um oftalmologista)

sábado, 8 de agosto de 2015

Desperdícios

Morrer
Cedo
Jovem e
Produtivo

Viver
Sem aprender
A amar
Nem ao
Próprio
Filho

Flores
Belas e
Colibris
E abelhas
Sem asas

Inteligência
E loucura
Incapacitante
Na mesma
Pessoa

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Mal Me Quis

Aquele pedido
Mal dito
Aquele beijo
Mal dado
Aquele descaramento
Mal vindo
Aquela história
Mal aventurada

Aquela uva
Mal comida
Aquela mexerica
Mal descascada
Aquele orgulho
Mal quisto
Aquele desejo
Mal entendido

Aquele rumores
Mal vistos
Aquele querer
Mal olhado
Aquele sentimento
Mau presságio
De amor verdadeiro
Mal vivido

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Gourmet número 2

Meu musos revezam-se
Tiram-me da inércia
Causam redemoinho
Às vezes no sentido horário
Às vezes no anti
Às vezes contra a borda
Os aromas variam
Os temperos também
As emoções alternam-se
Surpreendem, arrebatam
Aceleram ou até
Param o coração
Mas nessa cozinha
(Fique bem claro)
A colher é deles
Mas o caldeirão
E o que vai dentro dele
É tudo meu

Paladar

Enquanto casadoira
Ela procurava
"Baunilha"

Estável
Previsível
"De família"

Crescidos os filhos
Tá que não
Se aguenta!

Que baunilha o quê!
Quer é chocolate
E com pimenta!

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Doce Lar

Um sentimento
Me invade
Ao chegar
No meu bairro
Quando o carro
Dobra a esquina

Mistura de alívio
E alegria
Porque chego
Ao que pertenço
Aos meninos
E à menina

Ali tem gatos
Meus sapatos
Meus livros
E quinquilharia

Meu domínio
Minha família
Meu ninho
Minha ilha

Onde tudo
É administrável
E contornável
Mesmo que
Imprevisível

Porque a balisa usada
Até na hora da dor
É o meu mais
Verdadeiro e
Incondicional amor

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Populares

Quem inventou
"Manda quem pode
Obedece quem deve"
Não conheceu
A nossa história

Quem disse
"Prá bom entendedor
Meia palavra basta"
Teria se espantado
Com a nossa comunicação
De silêncios

Quem acredita que
"Melhor um pássaro na mão
Do que dois voando"
Não conheceu as penas
Que víamos um no outro

Quem acha que
"Água mole em pedra dura
Tanto bate até que fura"
Soube da fluidez
Da sua teimosia
Mas não da dureza
De tudo o que eu quero

Quem concorda que
"Ninguém é insubstituível"
Nunca sentiu
O meu amor por você
(Hoje teria sido um bom dia
Para você ainda estar
Jogando no meu time)

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Criminoso

Eu tinha cinco aninhos
O homem era sozinho
Nem uma única pessoa
Para amá-lo
Ou lhe fazer companhia
E eu morria de pena

Um dia os pais descobriram
O homem era um pedófilo
A minha mãe me explicou
O que a palavra significava
E eu morri de raiva
De ter morrido de pena

domingo, 2 de agosto de 2015

Rata

Parabéns
És a escolhida
Da vez

Vou te olhar
E te querer muito
Te pegar desprevinida
Pelo cangote

Morder até te ver
Fechar os olhos
E perder o fôlego

Te jogar para cima
E ver-te cair
Sem piedade

E quando
Estiveres sem força
E te achares
(Ou fingires)
De morta

Sairei sem fazer baruho
Para que te sintas segura
E penses que voltaste
Ao normal

Estarei à espreita
Atrás da almofada
Esperarei
O tempo que precisar

Na hora
Que te levantares
E tentares
Sair de fininho
Engolirás a seco
Ao sentir
A minha pata pesando
No teu rabinho


sábado, 1 de agosto de 2015

Para a Moça

Moça querida
Que a tua vida
A partir de hoje
Seja uma larga avenida
Na qual desfilam
Em escola de samba
Teus amigos
E família
E com alegria
Celebrem
A pessoa maravilhosa
Que és

Que a música deles
Retumbe
No compasso
Do teu querer
E a tua boa fama
Chegue antes
Nos lugares
Que escolher

Que o pavimento
Tenha a quantidade
Suficiente de atrito
Para ser agradável
Caminhar
Mas evite escorregões
Enquanto passas descobrindo
O melhor que a paisagem
E a companhia têm a dar

Que haja em cada esquina
Uma casa acolhedora
De portas abertas
Para seu descanso
Um remanso
Após a jornada
Repleta de descobrimentos
Alunos e sorrisos

E que no destino final
Em que essa avenida desembocar
Haja saudades de boas memórias
E sempre o gosto de vitória
Que só tem quem sabe amar

Feliz aniversário, Cláudia Dominguez!