sábado, 31 de outubro de 2015

Acordo

Não falaremos do amor
Em terceira pessoa
Como se ele tivesse vontade própria
Como se se impusesse
Aos nossos corações
E vida

Porque o amor
É essa coisa linda
Minha e sua
Que fazemos
Dia após noite
Noite após dia
Na varanda, na cozinha, na pia...

Falta

O coração
Machucado
Outro tanto

Olhos tristes
Derramam
Outro pranto

O corpo clama
Por você
(Todo canto)

Crise

O tédio chegou
De fininho
Passou por debaixo
Da porta, um dia
Qual camundongo
Como ela previa

Procurava contentamento
Espiando o mundo na janela
Ele pulava de bar em bar
E no final da noite
Achava um jeito
De a culpa ser dela

Curta

Havia eu
Havia você
E a possibilidade

Não havia
Coincidência
Das vontades

Hoje existimos eu
As lágrimas
A saudade

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Traição

O casal
Transformaste em
Um trio
Tento pouso
E equilíbrio
Minha vida
Por um fio

Plumas

Ele a desejava
Como homem
E a amava
Como menino
Ele veterinário
Ela passarinho

Também o amava
Mas resistia
Pois sabia:
Quando a asa
Fosse restaurada
Voaria...

(De novo...)

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Reminiscência

Faz tempo que não te vejo
Há tempos
Não há desejo
Faz tempo que não te beijo
Há tempos
Do amor...
Nem um lampejo...

Caidinha

Apaixonar-se
É fazer acrobacias
Sem rede de proteção

É viver entre as nuvens
Os pés esquecerem
O que é o chão

É jogar-se em
Piscina rasa
Afogar-se em contradição

É tentar manter
O bom senso
Explodindo de tesão

Carrinho de rolemã
Sem freio
Descendo em declive

É salto de olhos fechados
É vôo em queda livre
(Deus me livre!)

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

À Francesa

Desaprovo
O seu enredo
Volto quando você
Perder o medo

Flexível

O que você esqueceu
Em seu plano meticuloso
De destruição
É que o caleidoscópio
É belo por ser caótico
Se rearranja
Se restaura
Se refaz
A cada momento
E movimento
Fiel à sua definição
Nunca deixa de ser
O que na verdade é
(Ou quem é)

Cinza

Lá fora o arranha-céu
Cá dentro arranho a parede
Lá fora os quatro elementos
Cá dentro nada aplaca a sede

Lá fora a turba vibra
Cá dentro a dor de barriga
Lá fora a energia fervilha
Cá dentro a mente é uma ilha

Lá fora a vida grita
"Não te convido"
Cá dentro a mesma decreta:
"Risco de suicídio"

Desistência

Com tanta água caindo
Poupei meu cavalinho
Da chuva
Mas a peteca no chão
Definitivamente não
Mea culpa
Mais popular que o Wando
(Melhor eu sair andando)
Talvez até seja um erro mas
Segue o enterro

terça-feira, 27 de outubro de 2015

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Volta

Ao amor
Que transcendeu
Marcou, cravou
Fez morada no subcutâneo

Não se contentou
Em existir
Surgir, vingar
Durar e passar
Como o destino quer

Ao amor
Que teimou
Em sonhos
Sussuros
Cheiros
E lembranças

Me entrego hoje
Nesta vez e de novo
E em todas as outras
Que certamente virão



domingo, 25 de outubro de 2015

A Cor com que me pintas

Ardente
Quente
Lava vulcânica

Aquece
Enrijece
O que é vivo
Por baixo

Acelera
O movimento
Tira da inércia
Rodopia

Em sonhos
Promessas
E planos
De prazeres
Tamanhos...

Renúncia

A lua é dos amantes
E a noite convidativa
Uivo para ela
E quem me responde é você

Me liga
Me provoca
E depois volta
Para a focinheira de ouro

Boa sorte!
Quem sabe
Sendo um bom menino
Ela dá uma voltinha no quarteirão
Com você...

Farmacodinâmica

Ela não lhe serviria como anestésico
Fuga da realidade
Viagem alucinante

Era de outra classe de narcóticos
Muita intensidade
Alta velocidade de distribuição
Excesso de volatividade

(Seu parco metabolismo
Não a aguentaria)

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Busca

E lá estava você
E era você
E eu também, lá
Sendo eu

Você com sua sede inesgotável
Bebendo de filtro de barro
E eu cachoeira

E porque você era você
E eu era eu
A queda de braço se deu
Porque você salivava
E eu desaguava em outro mar

E porque nós éramos nós
Nunca ficávamos a sós
E teve que ser como foi

(Nunca teríamos desistido
Um do outro)

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Segredos

Não conte!
Não conte
Da mão boba do tio
Não conte
Quantos homens já tiveste
Não conte
Do aborto testemunhado
Não conte do adultério desejado

Tens a praga
Do "xis" em dobro
A marca da vaca-propriedade
A letra escarlate
Marcada a ferro em brasa
No peito esquerdo
Em formato de maçã

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Triangular

Há um lado terno em mim
Que faz carinho em seus cabelos
E beija as suas pálpebras levemente
Com cuidado para não o acordar

Há um lado carente em mim
Que procura o seu olhar
Que clama por sua atenção
E precisa da firmeza da sua mão

Há um lado fêmea em mim
Que chupa a sua saliva
Morde o seu pescoço
E quer você por dentro

E há esse ser que é você
Que sorve meus três vértices
De um gole só
Desde a primeira noite

Concreta

Não me envaidece
Ser musa
Tema de música ou
Virar poema

Não me enternecem
Telefonemas na madrugada
Músicas dedicadas e nem
Flores na porta

Não me seduzem
Cartas elaboradas
Serenatas de terceiros ou
Cantadas virtuais

Me encanta
Aquele que dá a volta na mesa
Trazendo a taça de vinho
Para ficar mais pertinho

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Tentativa

Nem tente me esquecer
Desenhei o traço
Do seu lábio inferior
Com o meu dedão
Para que sua boca
Continue falando bem de mim
Aos quatro cantos

Nem tente me esquecer
Entrelacei meus dedos
Nos seus cabelos
Para que penses em mim
Quando chover
Quando tomar vinho
Quando parar no sinaleiro
E quando tomar banho

Nem tente me esquecer
Escrevi nos riscos que fiz
Nas suas costas com as unhas
Que quando estiver longe de mim
Vai lhe faltar o ar
E doer o peito

Nem tente me esquecer
Marquei suas panturrilhas
Com os meus calcanhares
Para você saber
Que sou o susteio agora
De tudo o que te delicia

Nem tente me esquecer
A massagem nos seus pés
Lhe ensinou direitinho
Que a sua zona de conforto
É ao meu lado
Agora e para sempre

Inesquecível

Você
Me inspirou sonhos
Me sugeriu planos
Me lembrou do amor

Você
Me levou em viagens
Me tirou o fôlego
Me roubou a dor

Você
Se escreveu na minha pele
Se infiltrou na minha vida
Se revestiu de mim

Você
Foi a melhor surpresa
A maior alegria
E a pior perda

domingo, 18 de outubro de 2015

Erro de Cálculo

Um dia, cansada de ele estar ao meu encalço por tantos anos, dei um giro completo, segurei-o em volta das orelhas e beijei-o longamente, bem no meio daquela barba maravilhosa. Foi pego tão de surpresa, que nem me abraçou. "Sua louca! Afinal, o que você quer?" Não respondi e beijei-o de novo, suplicando em minha cabeça: "Que você me decepcione."
Puxa vida... Devia ter falado em voz alta...

Dia do Médico

Sei que muita gente já passou (ou viu ou soube de alguém com que aconteceu) uma má experiência com médicos. Ou mais de uma. E é chocante, porque, neguem ou não, espera-se uma superioridade moral deste profissional, da mesma forma que se tolera erros de um homem como pai, que viram manchete de jornal, se for uma mãe que faça.
E eu entendo. Errar, de propósito ou não, com uma pessoa doente, fragilizada, ou sua família, é adicionar maldade ao que já é mau.
Mas como hoje é o Dia do Médico, e por óbvios motivos, eu conheço bons médicos aos milhares, gostaria de dizer que também fico doente, que meus filhos e parentes também, e que acumulo muitas histórias de marejar olhos de ternura e gratidão.
Exemplo: o obstetra que me acompanhou na primeira gravidez, e o outro, na segunda e terceira. O anestesista do parto. A médica que operou o rim do meu filho. O neuro que deu conta da minha enxaqueca. O cirurgião que operou a apendicite do me filho. O otorrino que tirou as amígdalas da minha filha. Para eles, só um paciente a mais, num dia de rotina. Para mim, os eventos do século! Eles provavelmente só lembrariam de mim se eu mencionasse que sou médica. Para mim, são inesquecíveis.
E, no outro lado da moeda, tenho colegas que me ajudam com pacientes, cada um na sua área, cuja competência testemunho diariamente. E tenho meus mentores, médicos que me ensinaram e ensinam, que coloco num degrau acima de mim em conhecimento, em quem confio como profissional e pessoa.
Enfim, encontrar bons profissionais na área da Saúde é uma bênção... Parabéns aos meus colegas e amigos, que escolheram essa profissão fascinante, que amam o que fazem e gostam de um desafio. Deus nos ajude e guie, sempre!

sábado, 17 de outubro de 2015

Salivando

Essa sua boca linda
Tão quente
Tão perto da minha
É a porta
Prá tudo que é bom
Meus lábios de edredon...

Sussurro

Meu poeta
Meu lindo
Recebe em teu ouvido:
Se escolherias
Morrer ao lado de teu amor
Por que escolhes viver sem ele?

Muso

Não veio prá dividir
Tempo
Espaço
Conta bancária

Não veio para durar
Mais que o encanto
O enlevo
O sonho

Não veio para ser
Um problema
Apenas tema
De um poema

(Na verdade, uns vinte...)

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Vermelho

Nesta noite
Quem me procura
Não me acha

Nesta noite
Estou a fim
De fazer graça

Esta noite
Tem cortina
De fumaça

Nesta noite
Trago garrafa
E sirvo taça

Nesta noite
A solidão
Não me ameaça

Nesta noite
Nossa história se
Desembaraça

(Desta noite
Você não passa)

Sororidade

Não pensa que não sei
Dos seus encantos
Sua beleza
Sua alegria
Sua transparência
Sua força
Não há razão
Para estranheza
Não somos rivais
Você é uma mulher
Como nenhuma outra
E eu também

Como vou?

Bem...
A vida segue aos poucos
Os sonhos diluem-se aos muitos
Os demônios são expulsos aos trancos
As quedas dão-se aos barrancos
O doce se esconde ao fundo
A raiva é espantada aos gritos
A dúvida retira-se à francesa
O frango é servido à cubana
Os problemas discutidos à exaustão
E continuo feliz (à moda da casa)


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Promessa

Um dia escreverei sobre amor
E não será para você
Um dia lerei um poema
E não me sentirei ante você
Um dia ouvirei sobre saudade
Não pensarei naquela após você
Um dia caminharei para a felicidade
Mas não será até você
Um dia gozarei num sonho
E não será com você
Um dia farei planos diabólicos
Que não serão contra você

(Um dia acharei até graça
Um dia você passa)

Ciclos

Quem define com precisão
A hora em que termina o dia
E em que a noite se inicia?

Serão os últimos raios de sol?
Será o luar a brilhar?
Serão os trabalhadores em casa?
Serão os boêmios na rua?
Serão as trabalhadoras da rua?

Quem define com precisão
Os rumos do meu coração?
Será o Fulano a sumir?
Ou será o Sicrano a chegar?

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Romance

Na afinidade das almas
O melhor vem à tona
Os espíritos florescem
A pureza brota
As intenções são claras
A paz invade as decisões
Os olhares se procuram
Os destinos se ajustam
Não acreditar no amor
Deixa de ser opção

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Escritora

A poesia
Me faz alada
Transporta-me leve
Nessa viagem sagrada

Os poemas
Me fazem serena
Ajudam-me a suportar
O peso das minhas penas

Querido

Quero tingir seus sonhos com as minhas cores
Do mesmo jeito que você fez com os meus
Quero ser o maior dos seus amores
E o brilho dos olhos seus

Porque a minha vida se transformou em uma noite
E já era tempo de aprender a amar de verdade
Porque o admiro e o quero e o amo
E entre nós não pode haver saudade

Vem para mim, meu vício
Minha vida, alegria, meu viço
Sejamos felizes enquanto há tempo
De viver e fazer rebuliço


domingo, 11 de outubro de 2015

Locomotiva

Meu coração de criança
Seguia viagem
Na sua direção
Até chegar
A malvada mensagem

Pulou a estação
"E se...?"
E não desceu na
"Mas e quando...?"

Apeou tranquilo
E feliz
Na estação
"Foi ele quem não quis"

Lição

Passei a minha vida
Fugindo da loucura
Entre livros da Ciência
Decorando estatísticas
Confiando em probabilidades
E investindo em romances
Prá lá de improváveis

Talvez eu tenha merecido
A puxada de tapete
As pernas lançadas ao ar
A queda dura na realidade
Ainda não sei o que é
Mas um dia eu aprendo

sábado, 10 de outubro de 2015

Distância

Não tenho pressa...

Tão certo quanto as gotas
Seguem uma única direção
Atraídas pela Terra

Tão certo quanto o outono
Chega após o verão
E a borboleta sai do casulo
No momento exato de colorir
E expressar beleza

Seus pés caminham para mim
Sua vida vai encontrar a minha
A semente já foi lançada
O desabrochar vai acontecer
Va
Ga
Ro
Sa
Men
Te...

Aprendizado

Você chegou de surpresa
No momento errado
De amar mais alguém

Você durou mais do que devia
Fez uma baguncinha
E colocou tudo no devido lugar

Você me intimidou
Questionou, desafiou
Me desestabilizou

Você foi embora e me ensinou
Que quando a intuição avisa
É melhor eu escutar...

Nostalgia

Hoje acabou a energia
Hoje acabou a alegria
Me entrego assim
Rezando para que você exista
Em algum outro lugar
Além de dentro de mim

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Dicotomia

Reúno as minhas forças
Para subir a infinita escada
Mas se Deus me queria no Céu
Por que não me fez alada?

(O diabo me oferece diariamente
Uma roupa de amianto)

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Vida

Essa eterna procura por equilíbrio
Enquanto o chão ondula
O céu cai em cima da cabeça
E a carne treme

Esse ínterim improvável
Entre o nascer e o morrer
A cronicidade e o surto
O normal e a labirintite

Esse correr contra o tempo
Chorar perdas e desperdícios
Comemorar os aparentes triunfos
E gozar o máximo de vezes que puder

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Chamado

Vem passear
Por essas bandas
Tenho lugares
Prá mostrar
E histórias prá contar

Vem passear
Por essas bandas
Lá pelas tantas
Você não vai querer
Mais voltar (pro seu lugar)

Paixão

Tirou-me a paz
Robou-me o sono
Jogou-me na turbulência
Isso não se faz
Me fazer tão consciente
Da sua existência...

Repetição

Cada vez que se conta uma história
Ela acontece de novo
Cada vez que se nota uma saudade
A pessoa se vai novamente
Cada vez que se chora uma perda
Ela acontece mais uma vez
Cada vez que se lamenta um sonho perdido
O momento de realizá-lo foge prá nunca mais

Mas o que marca
O que é registrado
Na memória afetiva
De bom e de mau
Assalta, assola
E nunca pede licença

Não peça desculpa
Por sentir
Não se sinta culpado
Por viver
Administre
Se puder

terça-feira, 6 de outubro de 2015

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Showman

Vaidosa que sou
Desci do palco
Para você subir
Ganhou o meu olhar
Está aqui o holofote
Espero na primeira fileira
Joelhos juntos
Mãos nas coxas
Sorriso ansioso
Arranca-me aplausos
Surpreenda-me, poeta!

Paciente

No mosaico
Que compunha
O livro de sua vida
As histórias nunca eram curtas

Nada era alta combustão
Ascensão, domínio e queda
Volta a cinzas, carvão
Fugaz, assim? Não...

Pelo contrário
Extendiam-se por anos
Décadas até
O fogo que parecia extinguir-se
Era sempre uma brasa escondida
Aguardando um soprinho
Do seu interesse

E assim eram
Os loucos que a criaram
E ela amou
Os poderosos que a desejaram
E ela odiou
Os pulguentos que mordiam
E ela dispensou
Os que a tocaram com delicadeza
E ela preservou

Mas, acima de tudo
Aprendeu a esperar
A acreditar no que é belo
Verdadeiramente querido
E não tem pressa em acontecer

domingo, 4 de outubro de 2015

Mulher

O meu poder
Tem formato de pêra
Já abrigou serezinhos
Foi fonte de vida
E amor sem fim

O meu poder
Tem massa cinzenta
Velocidade de raios
Conhecimento adquirido
E soluções de problemas

O meu poder
Tem formato de pétalas
Gosto de maçã
Apelidos bonitos e feios
E causa perseguições infindáveis

O meu poder
Tem curvas derrapantes
Mata fome e apetites
Inspira chegada e acolhimento
E aguarda quem merece

Pausa

Às vezes o cansaço me alcança
Nesta incessante procura
Da melhor versão de mim

A vida me chacoalha
O tempo todo
Numa nauseante alternância
De emoções

Me esvaio em poesia
Desejo sexual
E declarações de amor:
As (bem)ditas
As reais
E as encenadas
Também

Ex-Detento

Liberte-se
De quem você acha que é
Do que você achou sem querer
De quem você considerou um achado
E não era

Liberte-se
Do que lhe foi ensinado
Do ideal que você inventou
Das amarras amargas do passado
Liberte-se da métrica

Liberte-se
Das imagens bonitas da revista
Da competição imbecil com o vizinho
Do que você quer sem saber o motivo
Da obrigação de rimar

Liberte-se e
Dê-se a chance
De encontrar a si mesmo

sábado, 3 de outubro de 2015

Devagar

Que chegue lento
E sem pressa
Sincero
E sem promessa

Que chegue
Quieto
E com calma
E de leve beije-me a alma

Que chegue
Prá dividir
Um momento
Um lençol
Um movimento

Que venha
Adoçar minha poesia
E admirando
Conserve-me a alegria

Que venha
No sopro do vento
Que me invada
O pensamento

Que seja feliz
Em me ter
E que dure
Enquanto valer

Sobre a Natureza Humana

Tem gente que encontra palavras
Sobre sentimentos e desejos
E acerta
Enquanto um vira político
O outro torna-se poeta

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Pedido

Abraça-me
Como se não tivesse
Prá quem voltar
Como se não houvesse
O que temer
Como se não doesse
Se despedir
Como se o ato
Não fosse tolhido

Abraça-me
Como se não estivesse
A me odiar
Como se não atendêssemos a
Nenhum dever
Como se não importasse
O que está por vir
Como se você tivesse
Me escolhido

Como se fosse
A última vez
"Me dá um beijo?"
"Agora, dou"

Fixação

Sou
Seu sonho disforme
Fantasia que dorme
Onde você se desfaz

Sou
Um rabisco tênue
Sua inquietação perene
Viagem fugaz

Sou
Fumaça enganosa
Ilusão amorosa
Desiste, rapaz...

Cansaço

Há muito tempo
Que desisiti
Da perfeição
Há muito tempo
Me contentaria
Com o básico
Um salto
Sem queda
Um pliê sem cãimbra
Uma esperança
Uma trégua
Uma música
Que não desafine

Equilibrista

Nem tudo o que morre
Fecha os olhos
E vai para debaixo da terra
Às vezes, continua a existir
E nos força a lidar
Com as consequências

Nem tudo o que morre
Fecha os olhos
E vai para debaixo da terra
Deixa de existir
Às vezes, continua a reverberar
E nos força a lidar com as reticências

E nessa corda bamba
Entre a loucura e a sanidade
Só nos resta
Abraçar os sonhos dos vivos
Rezar pelos fantasmas
E encarar a ameaça dos mortos-vivos

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Encontro

Ali
Onde o assunto acaba
Ou é interrompido
Ali
Onde seu sussurro
Chega ao pé do meu ouvido
Ali
Onde eu o quero
E você me quer também
Ali
Tem que ser você
E mais ninguém

Início

Pode parecer desinteresse
Mas na verdade
É timidez
Recuo para que me dês
O olhar espontâneo
A atenção não solicitada
Aguardo pacientemente
No seco
Inunda-me...