quinta-feira, 30 de abril de 2015

Nozes

A casca grossa
Não temos mais
Mas nem por isso
A carne é macia
Mas o sabor
Ah, o sabor...
É prá quem não
Se engana
Com aparências...

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Egocêntrico

Julgava
Que nada
Escapava
À ação
Da sua
Gravidade
Delirava
Que o mundo
Girava
Ao redor
Da sua
Pança
Pensava
Que populava
O cérebro
De quem dele
Nem lembrava
A tomar antiemético
Para suportar
O veneno
Da sua própria bile
Não via no espelho
O nariz vermelho
Do ser patético
Que na verdade era
(Se enganar também
É uma forma
De sofrer menos)

No Campo

E já que ninguém
Fica prá semente
Desabrochemos
Coloquemos
Os dentes da frente
Prá quarar
Mesmo que o sol
Quase nos cegue
Curtamos o vento
Mesmo que ele
Nos balance
E leve embora
Nosso calorzinho
Nos molhemos na chuva
Que nâo dura para sempre
Recebamos cada pingo
Como um carinho do céu
Daqui a pouco o humor muda
A tristeza e o medo
Podem chegar num instante
Mas agora
Ah, agora...
Escolhamos viver...

terça-feira, 28 de abril de 2015

Pele

Na consulta, durante o exame físico, a primeira vez em que toco o paciente, já sentado encima da maca, é na perna. Geralmente, me agacho, levanto a barra da calça dele e aperto a pele ali, na parte da frente, para ver se está inchada, e já verifico se tem varizes. Deslizo a mão para trás, na panturrilha, para ver se a consistência é a esperada, ou se há dor. Esse gesto geralmente pega o paciente de surpresa, porque me coloco numa posição abaixo dele, como se o estivesse servindo - e, na verdade, estou. Sinto que me inclino pedindo licença para começar o exame, e gosto que seja assim, mesmo que ele não note.
Aí, me levanto, e abaixo a pálpebra inferior dele, para ver a coloração. Depois, eu ausculto o coração, o pecoço, o pulmão atrás, peço para deitar, apalpo o fígado, verifico o pescoço de novo. Tudo isso envolve toque, de uma maneira calculada, mais visão, audição, olfato, tudo ao mesmo tempo, enquanto o cérebro trabalha e vai colecionando os achados, para serem escritos no prontuário.
Mas hoje percebi que nada me faz sentir a pele e a vida do ser humano com quem estou lidando tanto quanto medir o pulso. Decerto que escutar o tum-tum do coração e o ar entrando e saindo dos pulmões é muito gostoso e vívido, com suas possíveis variações, mas no punho eu sinto a pele e sua consistência, a troca de energia, e grande diferença entre as pessoas.
Prá começar, quando se mede a frequência cardíaca através do pulso, não há muito mais distrações: conta-se o número de batimentos em quinze segundos, multiplica-se por quatro, está feito. Percebe-se a regularidade daquele sobe e desce, toca e afasta da artéria nas polpas dos dedos. O paciente está bem quietinho, esperando acabar, e assume uma postura calma, ou ansiosa, demonstra confiança, ou evita os olhos da gente. No paciente novo, a pele sadia, íntegra, grossa, elástica, a força do sangue bombeando, aquele vaso sanguíneo cheio de vida encanta e apazigua como se disesse "aqui está, comprove a minha saúde". E daí prá frente, as tantas nuances, até chegar na senhorinha que examinei hoje: sua pele fininha parecia poder rasgar-se se eu roçasse a minha unha, a textura de papel de cigarro, e seu pulso, fora do ritmo, parecia as batidinhas de asinhas de uma borboleta lutando pela vida. Mas não se enganem, ela estava bem, apesar da arritmia. Ao contrário de pacientes com a pressão arterial baixa ou em choque, nas quais a gente sente o pulso como um filetinho débil, um riozinho que mais parece uma canaletazinha de água correndo no meio-fio, depois que a chuva parou. Ali a gente percebe que tem que agir rápido, contra o tempo!
Sei que para muitos essa descrição não vai fazer muito sentido. Talvez faça mais para os trabalhadores da área de saúde que gostam do que fazem. É apenas um devaneio de alguém que se deslumbra com o que faz. Nunca me cansarei de procurar o que torna cada ser humano único, e cada momento da vida algo ímpar, inclusive em termos de saúde.

Cabelo Vermelho

A avó a tinha alertado:
Ser ruiva é bênção
E praga ao mesmo tempo
Desperta curiosidade
Nos homens
"O carpete combina
Com as cortinas?"
Mas também insegurança
"Será que eu dou conta
Desse fogaréu todo?"
Infelizmente também a
Inveja e o ciúmes
Nas mulheres
Já estava acostumada
Com os curiosos
E inseguros
Que não diziam sim
Por medo e nem não
Prá não perder a chance
Definitivamente
Toda vez que tentava
Fechar uma porta
Colocavam um pezinho
Para mantê-la entreaberta
Um belo dia se viu
Parte de um
Triângulo amoroso
Um não! Dois!
Que começaram
Simultaneamente
Para a diversão
E a tortura
Serem em dobro
O loiro
Tinha a castanha
O moreno
Tinha a loira
O loiro era lindo
Alto, risonho
Leve, livre
Se insinuava
E encantava
E a castanha
Fingia não perceber
O moreno era
Um tesão
Não fazia força
Para agradar
Era sério, misterioso
Confiável
E a enlouquecia
A loira
Veio tirar satisfação
E mijou em todos
Os postes da vizinhança
"Ele é meu!"
Para sorte dela
Não teve que dar satisfações
Porque nada devia
Apaixonada, fazia poesias
Ora prá um, ora prá outro
Umas músicas lembravam um
Outras, o outro
Palavras eram trocadas
Em todas as direções
Joguinhos e conspirações
Tramas e expectativas
Faziam a vida mais saborosa
Na presença das fantasias
Em que eles participavam
E ela suspirava com a avó
"Não podia existir alguém que fosse
A fusão dos dois?"
E as histórias se arrastavam
Ela nos sonhos deles
Ela nos pesadelos delas
Nenhum beijo acontecia
Mas os leitores agradeciam
Pois não aconteceu que um dia
Ela conheceu um ruivinho
Assim como ela:
Também sozinho?
(Publicou um livro
De romance um ano depois)







Essa é prá você, mesmo

Eu amo você
Verbo intransitivo
Intransigente
Simples
Autoexplicativo
Completo
Indiferente
Às causas
Casuísticas
Expectativas
Circunstâncias
E promessas
Inexistentes
Para o futuro
Eu amo você
Independente
De quantas poesias
Ainda criarei
Que começarão assim
Independente
De aquele beijo
Um dia acontecer
Ou não
Independente
De você voltar
Zeradinho prá
Minha vida
Ou seguir
Feliz na sua
Como a gente quer
Mas por enquanto
Deixa só eu dizer
Que eu amo você
E essa certeza
Me faz feliz
Como me faz feliz
Você existir

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Vem

Chega junto
Sem eira, nem beira
Chega junto apenas
Me queira

Chega junto
Na rua, na lua
Na minha ou na sua
Estou nua

Chega junto
Me esquenta
Me enfeita
Me ajeita
Me aceita
Me deita

Chega junto
Na lama, na cama
Na chama, na trama
Me ama

História de Amor

Toda história de amor que dura
É também
Uma história de superação

Supera-se os defeitos
Que o outro tem e nós não
Entregam-se os nossos
Na torcida de que não sejam
Tão graves assim
Aos olhos do outro

Divide-se a bagagem
Que o outro traz
Tão alheia à nossa
E às vezes pagam-se pecados
Que não cometemos
Perdoam-se os que surgem
Pelo caminho
De ambos os lados

Administram-se frustrações
Das expectativas
Não atendidas
Do início da paixão

Trocam-se confidências
Segredos inesperados
E lados obscuros
Descobertos com a convivência
Ou nas horas das crises do amor

Toda história de amor que dura
Mostra a grandeza de duas almas
Que por pouco ou muito tempo
Tentaram ser mais que seres humanos
Alcançaram algo de divino
E tentaram ser felizes
Numa troca cheia de boa vontade
Na esperança de serem amadas
Uma pela outra

domingo, 26 de abril de 2015

Prece

Que só se demorem
Em minha vida
Os capazes de gentileza
Os que amam a mansidão
Os que são bem humorados
Os capazes de enxergar
A vida com leveza
Os que medem as palavras
Os que fogem da aspereza
Os que sabem ir ao ponto
Sem pisar no pé dos outros
Os que têm boa vontade
Os que não usam de má fé
Os que queiram amar
Ou sejam hábeis em tolerar
O resto que só esbarre
Porque são numerosos
Por demais
E que sejam desviados
Porque o meu fardo
Já é grande
Tendo o peso
Que o Senhor
Meu Deus lhe deu
(Sei que é pedir demais)

sábado, 25 de abril de 2015

Ostra

Amo-te em segredo
Porque não é conveniente
Porque não há o que contente
Esse meu coração selvagem
Que fugiu da jaula
Ao te conhecer
Amo-te em silêncio
Porque não quero te provocar
Porque não sei no que vai dar
Se um dia eu conseguir
Te emboscar
Amo-te quietinha
Porque as convenções
Assim me mandam
Porque o prazer seria pago
Com o sofrimento de inocentes
Amo-te angustiada
Porque nem ao menos sei
Por que te amo tanto
Sem bem te conhecer
Sem ser correspondida
Sem nos dar uma chance
Sem me mover na tua direção
Amo-te prá sempre
Porque não tenho forças
E nem ao menos quero
Esclarecer
Elucidar
Apostar
Ou esquecer
(Me deixe a te amar)

Inverso

Também existe poesia
Em deixar o amor morrer
Em reconhecer
Que o prazo de validade foi atingido
E insistir é pedir prá sofrer
Deixá-lo perder-se na multidão
Com ou sem despedida formal
Agir como se fosse só mais um dia
Em que a saudade não mais existe
Até que ela realmente parte
Às vezes cabe discurso de agradecimento
Às vezes acontece um suspiro de alívio
Às vezes lágrima, às vezes, sorriso
Pode virar história para contar e rir
Ou ter sido lição amarga de se aprender
A evolução pode ser previsível
Para amizade, indiferença ou sociedade
Gosto de queria mais
Ou sentimento bem resolvido, superado
Mas surpresas também acontecem
E a gente vê um lado
Que era muito bem escondido e disfarçado
Às vezes o fim do amor
É o começo de uma história mais feia
Mas como o verão se transforma em outono
Depois inverno, primavera
Não é porque mudou
Que não existiu
Não é porque morreu
Que não valeu
O tempo que respirou
Trazendo sofrimento ou não
Valendo o preço pago ou não
Também há poesia
Em deixar o amor morrer
Tanto quanto há
Em permiti-lo nascer

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Calmaria

E assim
A vida segue
E sigo eu
Colocando os
Pingos nos is
Arrematando
Os nozinhos
Dos fios soltos
Escolhendo
As prioridades
Tentando chegar
E decidir
Na hora certa
Usando conhecimento
Batendo carimbo
Dividindo no cartão
Dividindo também
O que é bom
E faz bem
Atenta para
O sinal vermelho
O lobo
Atrás da árvore
A placa
De contra-mão
Fazendo contas
Dando as cartas
Trocando mensagens
Rezando pelos queridos
Um dia é de paz
O outro traz
A tempestade
Mas sempre
Amando viver
E sorrindo
Quase sempre

terça-feira, 21 de abril de 2015

Ator

Cheguei correndo
Resfolegando
Abri a primeira
Porta que encontrei
Umas poucas pessoas
Das últimas fileiras
Torceram o pescoço
Na minha direção
Com uma careta
E ele... lá encima
Tão distante
Tão lindo e suado
Proferiu a última fala
Olhando bem nos meus olhos
Ou estaria eu me enganando?
(Como as fortes luzes
Do palco não o estariam cegando?)
Baixou o tronco prá frente
Enquanto era aplaudido
Forte e longamente
Ergueu-se e me bateu
Uma continência-
Código nosso -
Confirmando:
Notara a minha presença
Na primeira fileira
A cabeleira negra
Da primeira dama
Nos nossos corações
Somente a existência
Um do outro

Casamento

Quietinha
Igual jiboia
Digiro
Os últimos
Ossinhos
Do nosso amor
Quase duas décadas
De convivência
Mas só uma cena
Que ainda me restou
Nós dois na cama
De madrugada
Ouvindo Bee Gees
Bem baixinho
Prá não acordar
As crianças
Cotovelos dobrados
Mãos entrelaçadas
No ar
Mal sabia eu
Que seria
A última vez
Que eu acharia
Que aquela merda
Valia a pena

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Realidade

Na prática
Nada aconteceu
Não me deste
Aquele beijo
E eu não levantei
A minha saia prá ti
Não namoramos
Não conheceste
As minhas fronhas
Não nos demos apelidos
Não mostraste
O teu lado mais irritante
Não nos casamos
E eu não fui a mãe
Dos teus filhos
Não nos entediamos
Nem nos revezamos
Para lavar a louça
Não nos desgastamos
Quando a grana
Ficou curta
Não planejamos
Envelhecer juntos
Nem cuidamos um do outro
Foi só um banho químico
De ocitocina, serotonina
E adrenalina
Acelerando o coração
Dilatando as pupilas
Ressecando a garganta
Sangue drenado para a pelve
Que impedia o cérebro
De funcionar
Na prática
Eu já deveria ter te esquecido
Há meses, talvez anos
E aqui estou eu
A te escrever mais um poema
Perdão...

domingo, 19 de abril de 2015

Mulherão número 4

Ela merece um carinho, então vou dar em forma de palavras: a descrição da nossa amizade e do que ela é para mim.
Conheci a Fernanda em um dos meus trabalhos, e agora trabalhamos lado a lado, em outro lugar. Nos vemos lá e passeamos de vez em quando. Um café. uma tapioca, uma baladinha, várias mensagens e telefonemas por semana.
Quando nos conhecemos, eu tinha acabado de me divorciar. Ela, por isso também, acompanhou muitas das minhas histórias, meus diferentes estados emocionais, já se contaminou por eles, e já se manteve firme, também, para ajudar.
Acredito que de todas as minhas amigas, ela é a mais diferente de mim. O que não nos impede de ter muita afinidade.
Prá começo de conversa, ela é bem mais nova, pequenina, fala baixo, seu "olááá" cantadinho é certeza de começo bom de dia. Criada sob vigilância, numa família bem estruturada, em Minas Gerais.
Sua mãe tem apenas quatro anos a mais de idade que eu, então eu sou mais próxima (em geração) da mãe do que seria da filha. Mas já brinquei com ela que se eu fosse a mãe dela, condenaria a nossa amizade, porque não sou boa companhia. Bem, tenho certeza de que nossas educações foram muito diferentes, bem como a que dou para a minha própria filha. A minha mãe e a dela provavelmente não seriam próximas. Acho.
Dificilmente discordamos em assuntos essenciais.Sentimos pessoas e situações de maneiras parecidas. Ela é mais desconfiada do que eu, e eu sou menos proativa do que ela. Eu sou mais impulsiva e desisto com mais facilidade. Ela é mais curiosa e tímida. Complicado de explicar.
Tenho várias amigas da minha idade, casadas e divorciadas, com filhos, e nossas conversas têm um compartilhamento da perspectiva de mãe. Quando falo dos meus filhos com a Fernanda, ela dá uma visão mais centrada neles, porque se lembra como foi na idade deles. É muito enriquecedor para mim. Fora que ela tem uma sensibilidade, uma vocacão para o estudo da alma, como poucos. Espero que ela seja psiquiatra, um dia.
De resto, é muita cumplicidade, estando as duas solteiras. Óbvio, conversamos sobre os nossos interesses amorosos, sabemos sobre eles, temos códigos secretos, e às vezes só a menção de uma palavra ou expressão já nos remete exatamente ao assunto em questão. Muito divertido!
Vira e mexe, no meio de uma conversa, a reação dela é das mais deliciosas! Ela explode numa gargalhada que eu não provoquei de propósito, e quase chora, e eu rio do riso dela, que dura muito... Às vezes ela arregala os olhos e cobre a boca com as duas mãos, e diz "não acredito!", e lá vem a gargalhada... Talvez por ela ser mineira e não saber piadas e expressões que são velhas entre os paulistas. Talvez porque me sinto à vontade de falar de tudo com ela.
Mas na hora de ser séria, no trabalho, reuniões, etc, ela é muito profissional. Vejo um futuro brilhante para ela como médica. Está sempre pronta para aprender, em todos os assuntos da vida.
Querida: às vezes você fala que queria ser mais como eu, e eu digo que você não conseguiria, sem pagar um preço. O que eu mais quero para você é que seja sempre como você é, mesmo que ainda haja o que (auto)descobrir. Porque o que eu conheço de você é simplesmente adorável!
(Está aí o meu agradecimento por você fazer parte da minha vida, amiga).

Tanto Mar, Tanto Amor

O maior medo dela era que ele fosse embora e não tivessem a chance de se despedir.
Sempre, ano após ano, tinha pedido, até implorado, para que ele a acordasse antes de sair pro mar, para pescar. Mas ele era rude e não entendia o coração das mulheres. Acordava, ainda escuro lá fora, fazia o próprio café e saía, com seus companheiros, sem olhar prá trás. Ela, exausta pela labuta do dia anterior, ainda imóvel na cama, não dava conta de acordar. Quando se levantava, com o choro do nenê, amaldiçoava o sono pesado e começava a rezar.
Nos raros dias em que o encontrava ainda na praia, consertando as redes ou vendendo ele mesmo os peixes, soltava um suspiro de alívio e agradecia ao Senhor mais cedo do que o normal.
Quando ele adoecia, tinha um prazer estranho de tê-lo por perto e poder demonstrar seu amor, cuidar dele.
Em dias de tempestade, seus olhos eram mais salgados que o mar. Trancava-se em casa com seu terço benzido, e todos da vizinhança sabiam que bater à sua porta antes que ele voltasse era receita para um ataque de histeria. Deixavam-na quieta com seus medos, e somente ele voltando a salvo aquietava-lhe o coração.
Detestava a música da Clara Nunes, em que o pescador se despedia, entregando-se para Iemanjá.
Porque o que mais a agoniava seria a lembrança das suas mãos calosas no seu corpo numa noite, e ele ir embora no dia seguinte, sem se despedir.

Camille

Teria sido capricho
De Deus
Que fosse frágil
Um pé na loucura
Outro no talento
Criada entre
Loucos bons
E loucos maus
Sem saber
Distinguir
Uns dos outros
Até ser tarde demais?
Teria sido
Sadismo do diabo
Que fosse fiel
A si mesma
Que amasse
Um homem
Que era mais leal
Ao passado
Vivido com outra
Do que aos próprios
Sentimentos por ela?
Seiva sugada
Pelo mestre
Sedento de juventude
Decepção amorosa
E aborto
Desequilíbrio e tropeço
Trinta anos
Fugindo dos demônios
Que a fizeram destruir
Parte do que era só seu
Dúvidas e angústia
O mundo não poderia ser bom
A dor da ausência
Dos que não a amavam
Mas significavam tanto
Os carimbos pesados
Por um lado elogiavam
"Gênio!"
E por outro condenavam
"Esquizofrênica!"
E ela não pertencia
Nem ao mundo dos sóbrios
Nem ao mundo dos loucos




sábado, 18 de abril de 2015

Conselho

A pessoa
Frente
A forte
Comoção
Abre-se
À dúvida
Ao aprendizado
É receptiva
Procura rumo
Para restabelecer
O equilíbrio
E acalmar
O coração
Elege alguém
Supostamente
Superior
Um estudioso
Alguém
Mais próximo
Da divindade ou
Alguém
Que lhe
Queira bem
Voltando
Ao estado normal
Das coisas
Só se presta
A escutar
O que bem
Lhe convém
E a ignorar
O que não for eco
Dos seus próprios
Quereres
(Manipular os outros
É o sonho inalcançável
Dos tolos)

Sozinha

E quando a gente
Não quer ninguém
E nem ao menos
Tem vontade
De querer alguém?
E quando a gente
Aprendeu que tudo
É troca (in)justa
E que tem mais
A oferecer
Do que quer receber?
E quando a rotina
Está plena
Serena e
Pacífica
Qual floresta
Quieta
Apesar
Da vida
Abundante
Que voa entre
Os galhos
Rasteja no solo
Fértil
E espreita
Entre as folhas?
(Quero ver
O artista
Que conseguirá
Me tirar
Dessa inércia
Tão boa...)

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Crua

Detestei ser criança
Ficar à mercê
Dos humores
Dos adultos
Das decisões
Nas quais
A minha opinião
Não contava
Da cegueira
Deles
À maldade
Das outras crianças
Desde aquela época
Já tão evidente
E eu tinha
Que perdoar
Porque eu era
"Mocinha"
Aos nove anos
E tinha que ser
No final das contas
Um problema a menos
Para eles
Ser enxotada
Das conversas
Interessantes
E me sentir
Mais pesada
Que uma âncora
Saudade nenhuma
Poética em
Sentido nenhum
Que os meus filhos
Olhem para as
Suas infâncias
E vejam muito pouco
Do que a minha foi


quarta-feira, 15 de abril de 2015

Ligeiro

Anda
Em mim
Que sou
Lago
Raso
De água
Pura que
Gela
Refresca
Os pés
Anda
Em mim
Que sou
Nuvem
Etérea
Sensação
De queda
Livre
Anda
Em mim
Andaime
Ándale!

Confissão

Eu quero
Entrar nas suas veias
Feito agulha
Pouco calibrosa
Que cause gemido
E não dor
Porque a anestesia
Será imediata
Eu quero
Que você me respire
Feito gás que
Ainda não foi inventado
Feito sufoco de alegria
E de choro
Eu quero que você
Me veja
Como sempre quis
Sem vergonha
E sem pressa
Eu quero
Que você me ouça
No começo
Mas que na hora
Que eu silenciar
Você tenha vontade
De derreter
Dentro de mim
E perceba
Que seu desejo
Naquele momento
É inevitável
Eu quero
Que você agradeça
De joelhos
A noite
Em que me conheceu
O guardanapo
Que me pediu
E o meu capricho
De me manter sóbria
Para não me escapar
Da memória
Um minuto de você
Eu quero
Que você se arrependa
De ter tentado fugir
Que você se odeie
Pelo desperdício de tempo
Por ter arriscado a
Me deixar escapar
Eu quero
Que você entenda
De uma vez por todas
Que quando a vida
Resolve acontecer
Ela simplesmente
Acontece


terça-feira, 14 de abril de 2015

Dança

Se for prá adicionar
(Como parece que é)
Pode vir!
No começo
Vou ensinar
O dois-prá-lá
Dois-prá-cá
Da escola
Que eu aprendi
E você
Provavelmente
Também já
Mas daí vou
Mostrar
Uma trocadinha
De pés
Que é só minha
(Ou assim julgo eu)
E talvez você tenha
Um balançadinho
De ombros
Que vá me encantar
De qualquer
Maneira
Bem-vinda
Ao meu samba
Meu bolero
Minha valsa
Meu sonho
Concretizado
A alegria
Dos meus dias
Meu ganho
Meu pão
Vem que eu tenho muito
A ensinar
Rever
Reaprender
E dividir
Com você

domingo, 12 de abril de 2015

Executivo

Ele levanta nem cedinho
E vai cuidar do seu mundinho
De homem mercado financeiro

Reuniões
Planejamentos
Estratégias
Discussões
Acordos
Salários
E demissões

E me deixa lá no cantinho
Nas mensagens do celular
Lidas entre o almoço e o cafezinho
E nem sempre respondidas

Tem nada não
Mais tarde eu mostro
Por que toda noite
Ele volta prá casa...

Distúrbio

TOC, TOC, TOC
Lava, lava
Muita bactéria
Vários fungos
Colônias virais!
TOC, TOC, TOC
Desliguei mesmo
O ferro elétrico?
Volta olhar
Volta verificar
Só mais uma vez...
Só prá ter certeza...
TOC, TOC, TOC
Preciso terminar
Esse dia
Mais magra
Do que de manhã
TOC, TOC, TOC
Os cabides
Virados
Para lá
As cores
Em sucessão
Perfeita
E os sapatos
Em paralelo
TOC, TOC, TOC
A louça suja
Na pia da esquerda
Porque a da direita
Tem que estar vazia...
Porque tem!
E a mármore
Sequíssima
Sem um único pingo!
TOC, TOC, TOC
Mas que diabos!
Deveria ser COT,
Que é em
Ordem alfabética!!!

Militar

"Muito riso
Pouco siso"
Dizia o meu avô bravo
"Menos beijo
E mais respeito"
Franzia o cenho
Muito bravo
"Larga de estudar
E aprende a costurar"
Certamente não sabia
Com quem estava falando
Eu beijava a sua mão
E ele me abençoava
Uma vez chorou
Emocionado
Num dia de Natal
Privilégio
Que nenhum
Dos filhos viu
- Só eu!
Apesar da admiração
Às histórias
Que trouxe
Da guerra
Agradeço a Deus:
A minha mãe
Puxou à
Minha avó

Intenção

Não, moço, eu não quero me casar de novo.
Não quero sair de mãos dadas com você no shopping.
Não quero apresentá-lo pros meus filhos.
Não quero conhecer seus pais.
Não quero que você me chame de namorada.
Não preciso de ajuda nas contas da casa.
Não tenho planos para nós dois.
E até hoje, estava muito bem, sozinha.
Ninguém quer me apresentar para os amigos solteiros.
Não saio por aí procurando companhia.
Percebo olhares e cantadas como formas de entretenimento.
Divirto-me com amigas e minha felicidade é plena.
Como você entra nessa equação? Nem ideia.
Mas desde que o conheci, só tenho certeza de uma coisa.
Eu só quero estar com você.

sábado, 11 de abril de 2015

Utopia

Eu quero um amor
Tão bonito
Tão sereno
Tão calmo
E sem dúvidas
Que não seja capaz
De gerar poesia
Devido à ausência
De conflitos
De dilemas
E sofrimento

Ou melhor
Que até gere
Uns poemas
Que causem
Inveja
Nos infelizes
E náusea
Nos equilibrados
Pelo excesso
De doçura
E repetitividade

Igual mãe
Elogiando filho
Algo do tipo:
"Eu te amo
Eu te amo
Eu te amo
Porque sim
Porque sim
Porque sim..."

E nada mais
Precise ser dito
(Tudo seja
Demonstrado)

Fases

Às vezes, a vida lhe dá um teste. E outro. E outro. Emendados. Sem trégua. Sem pausa. Sem troca de bastão.
Você fica meio atordoada, meio sem fôlego, mas não dá prá fugir, então se reequilibra, como se tivesse trupicado e caído, alisa os joelhos esfolados, e segue. Porque ficar no chão nunca combinou, nunca foi da sua natureza. Não é opção.
E daí a vida lhe dá um presente. E outro. E outro. Desembrulha, menina! Veio no seu endereço, na hora certa, encomendado por ela. Não precisa fazer sentido, não era prá ser previsto, pega, é seu!
E você fica até em dúvida se merece tudo aquilo, se aquelas pessoas e situações realmente existem, e nada mais no mundo está ali, a não ser o quentinho atrás do esterno. Edredon sobre o corpo no inverno. (Edredon dos lábios dele).
E nessa alternância se aprende, se escolhe, surpreende-se, avalia-se, abraça-se as marés todas, as fases, as bênçãos, tudo o que nem nasceu mesmo para ser bom, assim como o que nunca vai ser ruim.
E fazem parte de tudo isso: amigos novos e antigos, amores esquecidos, colegas de trabalho e virtuais, poetas, parentes, pacientes e uns figurantes também, que mesmo nos bastidores contribuem sem saber ou querer.
Que venha o fim-de-semana... e o resto da vida...

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Apreciação

Eu gosto de morar em mim
Porque conheço cada cantinho
E cada teia de aranha
Toda janela
E toda passagem secreta

Estou em permanente reforma
Mas já escolhi a paleta das cores
Das paredes por ora...
Até o próximo tédio
E a hora de virar as mesas...

Eu gosto de morar em mim
Porque gosto do que penso
Porque pouco me arrependo
E admito as rachaduras e entupimentos

Porque fico feliz em conversar comigo mesma
Porque tenho lembranças boas
Da maior parte das horas
Que vivi nesse lugar

Sei o lado em que o sol bate pela manhã
E o canto da varanda que tem gancho para as redes
O lugar pra se dar festa
E a quininha da melancolia
O quarto de bagunça em que só eu entro
E o arrumadinho pra mostrar pras visitas

É uma casa sobre rodas
Que já construiu alicerces
Em sete cidades diferentes
E viu felicidade em todas elas
Sem exceção

Eu gosto de morar em mim
Porque nunca fui mal assombrada
Apesar de todo o assombro
Que é viver intensamente

Meia dúzia

Se você
Não entrar
Em contato
Nos próximos
Seis dias
Vou apagar você
Dos seis meios
Facebook
Whatsapp
Linkedin
Celular
Instagram
Agenda telefônica
Vou chorar
Seis litros
Fazer poesias
Prá você
Por seis
Semanas
Depois vou
Dar chance
Prá outros
Seis...

Bailarina

E a mim
Só resta
Humildemente
Agradecer
As fibras
Estriadas
Que te
Gritam
A estética
Dos teus pés
Que sacrificaste
A dura
Disciplina
A dieta
A que te
Impuseste
A infância
Precocemente
Amadurecida
As horas
Dedicadas
Para que hoje
Eu apreciasse
Como um ser humano
Pode encarnar
A própria arte
Aplaudo
De pé!
Belíssimo!

Clima

Esquenta
Esfria
Esquenta
Esfria
Camisola
Pijama
Meia grossa
Meia fina
Vai dormir
No sofá
Vai dormir
De conchinha
Prende o cabelo
Solta pipa
Abre o vinho
Esquenta a canja
Coloca biquíni
Sua em bicas
Treme e abraça
Gato na cama
Reclama do calor
Reclama do frio
E a vida...
Nem aí...

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Pistas

Dá seta prá direita
E vira prá esquerda
Acende os faróis altos duas vezes
Sem ter polícia por perto
Diz que queria ter me visto
E some por três meses
Já desisti de te decifrar
Vai me devorar ou não?

terça-feira, 7 de abril de 2015

Reencontro

Se você voltar
Quando você voltar
Fala nada não
Deixa meus olhos encontrarem os seus
E se entenderem à vontade
Se você voltar
Quando você voltar
Explica nada não
Encosta a sua pele na minha
Esse será o termômetro do momento
E a condução do destino
Se você voltar
Quando você voltar
Descreve nada não
Que eu o sinto de longe
Que de mim você nada esconde
Por mais que tente
Se você voltar
Quando você voltar
Esqueçamos a saudade e o medo
Os mal entendidos
E os não ditos
Do que não foi vivido
Troquemos o passado pelo futuro
O que foi aprendido
Pelo que foi decidido
E vejamos no que dá...


Cruel

Prá trás ficou
A infância
A liberdade
Do vôo da borboleta
Encara de frente
A violência
Como se adulto fosse
As botas são da cor
Das asas, mas
A realidade não combina
Com os sonhos
Que sua mãe
Tinha para ele

Agonia

Às vezes
A mente sonha
Com passarinhos
Arco-íris
E borboletas
Mas o peito tem
Um lago de lodo
Da mesma temperatura
Dos cadáveres
(Chá nenhum esquenta)

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Manicômio

Existe mesmo algum lugar
Em que as famílias
Sejam funcionais?
Em que não há
Dúvidas sobre
Paternidades
Um cara
Neurótico de guerra
E uma dona
Que se casou por dinheiro?
E um filho
Que dá tombo no outro
E um primo
Que sofreu abuso sexual
E um tio
Que foi parar no hospício
E um segredo
Que ninguém conta
Aos menores de 99 anos?
Que não seja
Uma estrutura
De cartas de baralho
Em que o menos
Desajustado
(Coitado!)
Sustenta os outros
E não pode nem se dar ao luxo
De enlouquecer por amor?
Em que um se entrega
À pinga
E o outro
À polícia
E o outro
Esquece o próprio nome
Para não ter que voltar
A passar o Natal ali?
Se existe, me diz
Deve ser o Céu
Me mostra no mapa
Vou tentar chegar lá
Mesmo que São Pedro
(Meu padrinho, segundo mamãe)
Não ache que mereço entrar
(Saudades de Napoleão...)

História de Desamor

O dono da fazenda retorna, décadas após ter assassinado o caseiro. Olha tudo e diz "Mas que beleza!"
Senta-se no sofá e exige que lhe tirem as botas.
Os empregados (nunca remunerados,
dizimados pela fome e doenças, calos grossos nas mãos) gritam "Usucapião".
Prendem-no no celeiro. Uma refeição ao dia. Que já é mais do que merece. (Merecia cadeia)

domingo, 5 de abril de 2015

Memória

Hoje contei
Prá uma amiga
Historinhas
Do nosso amor
Havia tanto tempo
Estava guardado
No fundo do baú
Que juro
Até muriçoca
Voou quando abri
Já não lembrava
Dos sorrisos
Do cheiro
De amaciante
Dos jogos
De crapô
Do chopp
Que virou
Do carro
Que bateu
Mas tudo voltou
Em cores
E carne viva
Tão feliz
Por você ter
Participado
Da minha vida
Tão gostoso
Ter sido querida
Tão triste
Ter terminado
Preciso rever
Mais vezes
O retrato
Que mandei de volta
E você jogou fora
Mas sempre ficou
Guardado
Dentro de mim
Saudade...

Páscoa

E então aconteceu que a humanidade precisou de um eleito para dizer-lhe a obviedade da necessidade de amor entre as pessoas, e mesmo assim, ela não escutou. E não escuta até hoje.
Vai à missa comer o "corpo do cordeiro, imolado pelos homens", após confessar pecados que não tem a menor intenção de deixar de cometer.
Valoriza o fato de Deus ter enviado seu único filho para um destino cruel, e não se esforça em amar os próprios filhos. Porque dá trabalho, porque tem-se que abrir mão de se colocar em primeiro lugar, em sua própria vida. O próximo, então, nem existe para muitos! Mas uma outra pessoa precisava ser esfolada para lavar os nossos pecados. Sim, o próprio Filho de Deus, porque ninguém conseguiria tal feito!
Elegeu um ser concebido sem o ato sexual, porque mãe tem que ser pura e casta, e sexo tem que ser, para sempre, pecado (entre elas). Para conseguir se destacar o suficiente.
Nisso tudo, a coisa mais bela, sem dúvida, é a Ressuscitação. A que dá mais esperança! A prova de que Ele não era um humano como outro qualquer. Começou diferente, terminou diferente. Para que os surdos, talvez, sendo otimista, ouçam a sua mensagem. Porque só alguém que leva o seu corpo material para sentar ao lado de Deus merece ser ouvido.
Acredito que tudo tenha acontecido. Espero que tudo tenha acontecido. Preciso acreditar, para algo fazer sentido e validar as noções cristãs dentro de mim. Mas, se de fato aconteceu, fala muito a respeito da grandeza de Deus. E muito, muito mais da pequenez dos homens! Não deveríamos precisar de sofrimento para aprender a amar. Muito menos do sofrimento de um inocente. E tem gente que não vai aprender a amar nunca. Não nasceu com as válvulas certas. Erro de Deus? Quem sabe? Não é Ele quem tudo cria? Mistério...
Feliz Páscoa!

sábado, 4 de abril de 2015

Cozinha

Admiro quem
Manuseia
Comida
Com amor
Os temperos
Os cheiros
As cores
A maestria
Os amores
Já eu
Sou rainha
Dos inapetentes
E faço coisas
Que tiram
O apetite
Da maioria

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Sinceramente

Moço, não me leve
A mal
Ou leve
Que a essas alturas
Já nem me importo
Eu não aceitaria
Que me
Dissessem isso
Me ofenderia
Me irritaria
Com a ousadia
Eu sei bem
Das muitas
Qualidades suas
Como ser
Humano
O admiro
Por todas elas
E coisa e tal
Não estou
Falando
Por falar
Mas...
Não posso negar
Eu olho
Prá você
E só consigo
Pensar
Num único
Assunto!
Impressionante...

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Poetando

Enquanto houver
As infinitas
Possibilidades
De arranjos
Das palavras
(E emoções)
Sempre será
Possível
Ser poeta
Apesar de
Feliz
Descrever
Sem nunca
Ter visto
Viajar
Sem nunca
Ter ido
Sangrar
Sem nunca ter
Sofrido
Viver
Sem nunca
Ter escolhido
E te amar
Sem nunca tua
(Na verdade)
Ter sido

Alérgico

Gabava-se
De ser imune
Aos alergenos
Comuns
Comeu
Manteiga de amendoim
Da americana
Se embalou
Nas colchas
De ácaro
Da cartomante
Inalava as caspas
Dos gatos
Da veterinária
O pólen
Do cabelo
Da florista
E o pó de arroz
Das balzaquianas
Que adorava
Mas foi pego
De surpresa
Quando beijou
Os lábios
De mel de abelha
Da mulata
O edema de glote
A falta de ar
O chiado do peito
A taquicardia
O medo de morrer
O doutor
Colocou-o no soro
Mas ele sabia
Que era
Um caso perdido
Cortisona nenhuma
O salvaria
Da próxima vez
Que a encontrasse

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Carta ao amor

Eu hoje quero escrever
Prá esclarecer
Meu sentimento por você

Para isso
Tem que ser
Visceral
Irracional
Sobrenatural
Fora do normal

Quero que o meu coração
Derreta qual chocolate
E saia pela boca
Feito lava fumegante
Que as partes mais quentes
Entumesçam
Inchem e gritem
A sua ausência

Que você se assuste
Como estarrecida
Fiquei eu
Em saber que você existe

E que por fim
Você ache
Que não é possível
Eu te amar tanto assim

Que eu só posso
Estar escrevendo
A respeito de outro
Espante-se!
Porque: sim, é você...


Sobrevivente

Floresça
No meio
Do cimento
E caos
Desamparo
Desespero
E desproteção
Carência
De cuidado
Afeto
Investimento
E atenção
Entre
Desamor
Inveja
Maldade
Ofensa
E acusação
E depois
Me diga
(Tendo brotos)
Se o vaso
O adubo
A água
E o tempo
Para cuidar deles
Gritam "conforto"
Ou "tédio"!
Eu sei
A minha resposta