quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Anjo

Não me julgue
Não me enquadre
Não me defina
Não me pare
Não somos feitos
Da mesma matéria
Sou liberdade sem asas
Escolha e ousadia
Pecado e mérito
Não me julgue
Não me conheces
As tentações
Volte para o seu Céu
Que tenho um vasto Inferno
Para provar por aqui...

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Querer (Vôo)

O olhar denuncia
O que mais se quer
Você todo homem
Eu toda mulher

Calminha

Tenha ciúmes não
Divides com o mundo
Só um pouquinho de mim
Um pouquinho de atenção
De ternura
De cuidado
De afeto
De diversão
Mas no final dos dias
(Todos eles)
Meus abraços e beijos
São só teus
Meu amor, meu tesão

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Quase Ousada

Na poesia cabe tudo
Sigamos este pensamento
Cabem menina, moça, freira
Mulher e seu rebento

Cabe contar de trás
Prá frente
Cabem o sincero
E o que mente

Cabem os palavrões
Que sempre calo
Os peitos, a boca
Os pelos e o... pênis

Cabem alegria, tristeza, folia
Sonho, planos e rebeldia

Cabe o amor que não fizemos
Descrevê-lo em seus momentos

Cabe perguntar
"Como é que fica
O tesão e a larica..."








Intriga

Tem algo muito estranho
Nesse seu ego tamanho
Que procura o meu olhar

Tem algo muito doce
Nesse jogo cruel
Ao me manipular

Tem algo de mistério
Nesse quero/não quero
A me intrigar

Tem algo muito certo
Nesse seu jeito errado
De me amar...

domingo, 27 de setembro de 2015

Imbecil

Saiu procurando por mim
Tentando me substituir
Em bebedeiras
Noitadas, baladas
Outras bocas, dinheiro e
Jogos de azar
(Vida torta)
Em outras juras de amor eternas
Voltou com o rabo entre as pernas
(E deu com a cara na porta)

Oceano

Me encontro no fundo
O fundo mais profundo
Onde o silêncio é absoluto
O cheiro é salgado
E os peixes brilham
Sem esforço

Onde a alma é leve
E a água é pesada
Soterra, comprime
Pulmões, ouvidos
E pensamentos

Me encontro no vão
Entre o navio e seus fantasmas
Seus tesouros desperdiçados
Entre o sonho e o pesadelo
Entre o belo e o trágico

Porque no fundo
Lá no fundo
Nunca deixei
E nunca deixarei
De te amar

Querer (Pouso)

Eu quero
Mais que tudo
O pós

Pós começo
Pós meio
E entre
Duas
Ou três

Pós o entre
Entre os olhos
Entre as bocas
Entre as línguas
Entre os dentes
Entre as pernas
O "entre em mim"

Eu quero tudo isso
Mas mais que tudo
Eu quero o pós

O silêncio
O suor
Dos corpos exaustos
Entre os tsunamis
A pausa
A plenitude

sábado, 26 de setembro de 2015

Virtual

Imagino
O teu rosto
Posto que obedeço
Quando quero

Imagino
O teu gosto
Posto que me cheiras
A banquete

Imagino
Tua presença
Posto que te leio
Pelo avesso

Imagino-te
Dentro de mim
Posto que aprecio
O teu gozo

Romântica e Realista

Esse meu amor inocente
Que me faz te olhar sorrindo de longe
E notar o dentinho torto
Que tão raramente aparece

Esse bem-querer carinhoso
Que me faz rezar por você
Toda noite antes de dormir

Essa saudade caladinha
Que me faz inventar desculpas
Para ligar para você

Essa timidez que não me abandona
Me faz tremer dos pés a cabeça
Quando você me olha provocando
Por mais tempo que deveria

Esse fogo que queima meu corpo
Que não vai sossegar
Enquanto eu não sentir
A minha língua passeando no seu

Forte

Há um tanto
A preservar
E outro tanto
A conquistar

Há o que se há de tolerar
E o justo a se restaurar
Há as crianças, os inocentes
E o que não se deve tocar

Busque em sua memória
Meus defeitos e
Minhas qualidades
E tudo do que já fui capaz

Ouça seu instinto
De autopreservação
E repense suas ações
Não traga o meu fogo à tona

Ilimitado

Contigo não me posso
Não me posso dosar
Não me posso parar
Não me posso recuar

Não ouso
Não me dar
Não olhar
Não desejar

Contigo não me posso
Não ceder

Contigo não me posso
Não me posso recusar
Não me posso adiar
Não me posso abrandar

Contigo não posso
Não querer
Não me posso perder
De você

Sonho

Saudades
Do nada que fomos
Porque dentro de mim
Fomos muito

Saudades
De aprender o que você
Gostava em mim
Porque era
O pouco de você
Que permanecia

Saudades
De me ver em seus olhos
Porque eram onde
A melhor parte de mim
Era vista

Saudades da sua sede
De atenção
Do seus planos
Sua visão
Sua loucura no final
Que tanto me preocupou

Saudades da sua imagem
No meu pensamento
Sua voz no meu ouvido
Sua presença etérea
Na minha vida
Saudades da sua sombra

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Doce Sensação

O que nessa vida enternece
É o que acontece
Quando a vida é leve
A corrente de ar
Carregando a pluma
O amanhecer
A paz do silêncio
A pétala que se solta
A folha que cai
O beijo do colibri
O orvalho na rosa
O cheiro da sua barba
O sol na pele de manhã
O sumo do abacaxi
O bater das asas da borboleta
A declaração de amor

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Sintomático

Essa febre
Que invade a pele
E queima a alma

Esse suadouro
Quente e profuso
Que atormenta o sonho

Essa tontura
De falta de juízo
Que tira os pés do chão

Essa salivação
Que embaralha a visão
E lubrifica o bom

Essa dor
De mordida na nuca
Esse ardor
De atrito afoito

Essa paz
De fome afogada
Essa pulsação
De desejo atendido

(Curo a sua palpitação
Em troca de livrar-me
Dos arrepios...)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Vida

Existiram os planos coincidentes
O caminho percorrido a dois
O crescimento, a alegria, as escolhas
Os filhos, a casa, a vida plena

E quem sou eu, afinal
Para dizer que não valeu a pena?

Existe a lembrança boa do tempo
Em que eu acreditei em tudo o que tinha
E a do tapa na cara me acordando
O retorno ao châo, finalmente

Mas quem, afinal, sou eu
Para ser poupada de viver intensamente?

Existiu o tempo ajudando
Seu presente: a cicatrização
Ao lado de amigos preciosos e família
O retorno a mim, a resolução

E quem afinal, sou eu
Prá negar o amor à vida contido neste meu coração?

domingo, 20 de setembro de 2015

Destino

O caminho é longo
Mas os pés não cansam
Os pedregulhos machucam
Mas a dor não fere
O calor é grande
Mas o sorriso não arrefece
Por saber que me esperas
No meu futuro feliz
Meu amor...

sábado, 19 de setembro de 2015

Volúvel

Ele se encostava de norte a sul
E tentava conter o que escorre entre os dedos
Agarrava a minha asa em tentativa vã
De eternizar o que lá, de fato, não existia

E o meu corpo respondia a contento
Como rir quando se sente cócegas
E prolongava o seu tormento
De saber que o coração pertencia a outro

Poucas Palavras

Você não vale o esforço
De escolher certo as palavras
Do discurso que precisa ouvir
Sigo em silêncio
A vida tentará ensiná-lo
Pena que você nunca aprende

Desperdício

Eu teria
Batido a tua alma
Num liquidificador
E tomado aos goles
Igual vitamina
De abacate

Eu teria
Beijado cada centímetro
Do teu corpo
Até me implorares
Prá parar

Eu teria
Invadido o teu pensamento
Todo santo dia
Te desobedecido acintosamente
Para disfarçar
O fato de ser tua escrava

Eu teria
Marcado meu nome na tua história
Sido bênção, tormento
Fonte de vida e glória
Bastava tu ter me querido
Com força suficiente
Covarde...

Dom Quixote

Você
Pedaço de mau caminho
Cavaleiro
Vento
E moinho

Chegou assim
De mansinho
Cordato
Cavalheiro
Meu vizinho

Não economizou
No carinho
Se apossou
Do meu coração
Todinho

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Notícia

Ali eu morri
Vi a ficha cair
A verdade que eu negava

Ali eu parti a moleira
Na beira do bidê
Ali eu caí das nuvens
A que meu sonho tinha me alçado

Ali eu revi que o que não éramos
Nunca mais seríamos
Ali eu morri e para meu azar
Não deixei de respirar

domingo, 13 de setembro de 2015

Antagônica

Tive que te mandar embora
Puro instinto de preservação
Eras meu amor, meu desejo, meu tudo
Salvamento e danação

Havia aquela linha invisível
Tênue, forte e sutil
De teia da aranha que nem se esforçou
Lançou-a num olhar viril

E em tuas mãos eu teria sido
Um fantoche feliz a cantar
Bailarinazinha dentro da caixa
Te esperando me fazer dançar

Boneco de ventríloquo
Sombra a te acompanhar
Eu me desfaria em ti
Viveria em nome de te amar

Desculpa, querido
Não pude arriscar
Foi muito forte, deu medo
Só te resta me perdoar


sábado, 12 de setembro de 2015

Serventia

A poesia é minha
E eu faço das palavras
O que eu bem quiser

Posso levá-las prá beira do rio
Ensaboar com sabão de gordura de porco
E batê-las contra a pedra até puir
Enxaguar, torcer, pendurar
Ou colocar prá quarar

Também posso levá-las ao salão
Mandar pintar-lhes as unhas
Alisar os cabelos e
Fazer massagem relaxante

Hoje eu só quero usá-las
Prá mandar uma mensagem de amor
Tua lembrança me pega de surpresa
Dói no peito, lateja, dilacera
Enverga a minha alma
A vida ainda é boa
Mas contigo era melhor

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Apaixonados

Voávamos por céus diferentes
Direções diversas
E às vezes
Correntes de ar opostas

Ele intuía vagamente
Sorria debochado
Desdenhando
Devia ter concorrência

Mas seguia tranquilo
Nos afazeres
Tão seguro era
Senhor de competência

Porque a noite era imbatível
Linda, calma e previsível

Não importava a distância percorrida
Tão certo era
Que estaríamos de volta
Prás nossas gaiolas
De braços e pernas


PS: Me chamava de "senhora minha"
Fingia que obedecia
Mas me tinha todinha

Otimista

O poeta segue louvando
A beleza das asas da borboleta
Como se não fossem frágeis
A liberdade do vôo dos pássaros
Como se não fosse perigoso

O encanto das cores da cauda do pavão
Como se não fosse vaidade
A força das águas da cascata caudalosa
Como se não fosse violência

A vastidão do azul do mar
Como se não fosse mistério
A alegria inquietante dos amantes
Como se não fosse ilusória

A presença da saudade
Como se não fosse dor
A inocência das crianças
Como se não estivesse condenada

A força da paixão
Como se não fosse praga
A chegada da morte
Como se fosse desejável

E a existência do amor verdadeiro
Como se fosse viável

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Édipo

Um dia ele me confessou.
O gato (Harry) não tinha viajado para muito longe porque se apaixonou e queria namorar.
Os vizinhos tinham envenenado o Harry com chumbinho e ele o encontrou morto. Duro e fedido.
Foi a única mentira do meu pai que não me decepcionou. Ao contrário, me fez amá-lo ainda mais.

Pergunta

Sonhei o teu sonho
Bebi tua saliva
Lambi o teu corpo
Viciei na tua atenção
Aquela intensidade
Aquele amor em vastidão

Acolhi a tua vaidade
E massageei o teu ego
Dividi o meu tempo
Dei-me a ti de presente
Rearranjei teus pensamentos
Acalmei os teus ânimos
Administrei os meus tormentos

Tu que sempre me ensinaste
Tu que estiveste ao meu lado
Tu que imploraste minha presença
Tu que me prometeste tanto
Me fizeste tão querida
Diga-me agora: sem ti
O que fazer da minha vida?

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Pecadora

Teu corpo
Minha capela
Pela qual
Ajoelho
E rezo
Até chorar

Teu desejo
Meu mandamento
Me conduz
Me tortura
Até eu
Não mais aguentar

Tua saliva
Minha água benta
Me mata a sede
Pia batismal
A me embriagar

Teu amor
Minha danação
Me pune
E redime
Até pro Céu
Me levar

Miragem

Curtas as pernas
Das suas palavras
Longa a língua
Peçonhenta que fere

Curta a história
Do amor mentido
Longo o alcance
Da minha verdade

Muito fosco
Prá ser ouro
Miou demais
Para passar
Por lebre

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Globalizada

O alemão boa pinta prometeu um beijo francês no restaurante italiano. Ela entrou para o Curso Preparatório Básico de Massagem Tailandesa. Mas ele visualizou e não respondeu, e depois justificou-se dizendo que estava ocupado a comer chucrute. Ela mandou-o à sh#t, com seu inglês carregado de sotaque brasileiro, que ele tanto gostava.
True fictional story.

Um dia desses

Ela acordou bem cedo e foi malhar. O espelho comprovou que os abdominais estavam surtindo efeito. Depois, foi à reunião da escola das crianças. Comportamento exemplar, notas ótimas. Congratulou-se intimamente pela disciplina exigida. Almoçou uma salada de alface, rúcula e tomate. Mais tarde, sorriu ao ouvir da dentista: "escovação perfeita!" No ginecologista, exames laboratoriais 100 % normais. Mas decidiu cancelar a consulta com o psiquiatra. O dia estava maravilhoso, não queria falar sobre o seu TOC.

Cafajeste

Um dia, cheguei pela manhã, para tomarmos café juntos, e ele estava bravo comigo.
Perguntou-me se eu tinha deixado um recado escrito em batom no espelho de propósito.
Eu respondi que sim.
Ele me disse que não tinha lido, e foi descoberto por outra pessoa.
Fiquei piscando, olhando para ele sem entender qual era o problema.
Aí ele sacou um lacinho de cetim, que eu reconheci como sendo de uma calcinha minha.
"E isso aqui? Descolou sozinho?"
Também sem entender, respondi que provavelmente, porque eu não tinha nem me dado conta de que não estava mais lá.
Ele olhou furioso para mim, e deu de cara com o rosto da inocência.
Percebeu o erro, e acabou confessando, depois de pressionado: achou que eu era a namorada dele que sabia da outra namorada e o estava sacanenando.
Mas eu era a que não sabia.
Éramos três, ao todo.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Aliança

Não é o que eu sou
Não é o que ficou
Não são as histórias em comum
Não são as fotos dos álbuns

São, sim, o sonhos divididos
E as palavras trocadas
Em momentos únicos

São as paisagens que duas almas
Vislumbraram ao mesmo tempo
E as passagens secretas
Entre os dois corações

É isso que me faz confiar em ti
E no que há de mim
Aí dentro

É isso que nos atrai e mantém
E torna tu e eu
Simplesmente e sempre "nós"

Só meu

O meu canto
Tem almofada
Tem manto
Tem cortina
Tem pilha
De livro

A minha sala
É arejada
É preparada
Tem souvenirs
E sofás
E uma paz
Para descansar

O meu lugar
Tem meu cheiro
Minha luz
Acolhe
Quem gosto
E me seduz
Meu lugar
De amar

Otalgia

Sua voz
Me chega à orelha
Invade meus condutos
Eletriza os meus internos

Bate em martelo, bigorna
Perco as estribeiras
Atinge o cérebro queimando

Mas altera mesmo
É o labirinto
Perco o equilíbrio
E o rumo

Tudo roda e embaralha
Me apóio em você
Meu norte
Meu mastro forte