segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Beijinho

O belo não fala só aos olhos
O querer não toca
Apenas o coração
Quando a emoção não é pouca
Gosto a gente sente
É na boca

Fast Food

Ela já tinha terminado de atendê-lo, e olhava para a frente, aproveitando os minutos de trégua, os pés já inchados dentro dos sapatos.
- Calor, hein? - disse ele, enquanto esperava a comida, ao lado, como ela orientara.
Ela deu um sorriso amarelo. Sentia-se um pouco prostituída por ter que fazer aquilo quando não queria, por dinheiro.
- Ainda bem que tem ar-condicionado, né?
- Pois é. Mudei pra cá recentemente, depois de casar. Lá de onde venho, não era tão quente.
Ela acenou que sim com a cabeça. Olhou para a frente de novo.
- Faz tempo que você trabalha aqui?
- Um pouco.
Ele aguardou mais uns minutos e insistiu:
- Se a minha mulher souber que eu estou aqui, ela me mata!
A vontade dela foi gritar: "Cara, você tem uma aliança na mão esquerda, já percebi que é casado!".
Mas continuou com o sorrisinho.
A bandeja foi entregue, ele agradeceu as duas moças e emendou, para ela:
- Lindinha, você...
Ela resolveu dar um tempo. Foi até a moça que fritava as batatas, olharam para os lados e trocaram um selinho. A outra apertou seu cotovelo esquerdo, o código para "fique firme, temos planos".
Não aguentavam mais servir sanduíches para executivos entediados.

domingo, 29 de novembro de 2015

Oco (Sem Cérebro)

Meu átrio o atraiu
E entrou nele
Com ares de rei

Tossi
Para expulsá-lo
Pelo ventrículo
Mas voltava
A palpitar
A cada sussurro
Cada olhar

Vasculhei
Entre as cordoalhas
Que ele usava
Para tocar violão

Descobri o danado
Hibernando
Numa cúspide

(Minha mitral
Me traiu!)

Mal de Amar

Todo amor é amargo
Quando sentada na areia
Suspiro sabendo que não vens

Um barco passa ao longe
A brisa leva embora
O perfume que usei para ti
Mas não vens

Toda onda é calma de se olhar
Tua ausência dói de salgar
O farol tem pena de mim
Porque me olha de longe
E hoje não vens

sábado, 28 de novembro de 2015

Comportada

Minha larica
Não é por álcool
Erva
Festa
Ou farinha

Minha larica
É arrancar
Seu cansaço
(Com beijos)
Ao final
De todo dia

Oração

Que não me falhe a memória se um dia eu deixar de me amar.
Que eu me lembre dos amigos de décadas e de horas, dos segredos divididos, dos apoios e risadas.
Que eu me lembre dos amores: dos meninos e homens, dos pequenos e grandes, dos que deram e receberam.
Que eu me lembre dos meus filhos e do pai deles, do amor entre nós e da boa intenção, das decisões que exigiram coragem, dos sacrifícios e recompensas.
Que eu me lembre dos meus pais, tios, primos, irmãos, da grande teia de histórias que nos uniu num momento tão breve da eternidade.
Que eu me lembre da minha profissão: a dedicação e como me foi dada a graça de fazer diferença na vida das pessoas, ainda que não todas.
Se eu fraquejar e deixar de me amar, um dia, que a memória não me traia, e me restaure a alegria.
Amém.

Tango

Conduza
A minha saudade
Para longe
Que conduzo
As tuas dúvidas
Também

Deixa o teu corpo
Me mostrar
O que quer do meu
Façamos arte
Gozemos da saúde
Que Deus nos deu

E quando chegar
A noite
De dançarmos a sós
Compensaremos os dias
Em que houve
Roupa demais entre nós

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Arrependimento

Lembranças
Marinadas
Pelo vinho
Uma mágoa
Um descaminho
Uma lágrima
E eu sozinho

A história certa
Os motivos errados
O amor em queda
Os planos frustrados
Na rua um bêbado
Grita um palavrão
Cá dentro eu
Seu fantasma
E a solidão

O mundo gira
Você sorria
"É para sempre"
E eu contente
A náusea chega
Tenho má sorte
Melhor seria
Chegar a morte

Lembrança

Quando eu chegar
Naquele lugar
Com o sol a brilhar
Quando a nossa
Música tocar
E a pele arrepiar
É do seu sorriso
Que eu vou lembrar

Olhos Verdes

Hoje, o ciúmes me assaltou
Como não fazia há anos
E totalmente de surpresa

Não foi ciúmes do homem que eu quero
Nem da minha tia preferida
Não foi da minha melhor amiga
Nem da minha mãe, que divido com tantos

Foi de alguém que mal conheço
Uma história de reticências
Como se fosse direito
Tomar posse de quem não se deu
Como se ao menos soubéssemos
Do que nos privamos (por escolha)

Hoje, o ciúmes me assaltou
E foi uma mini angina no peito
E não há nada a se fazer
A não ser esperar passar

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Fome

Tua saudade
Chega mansa
Etérea
Vagarosa
Qual açúcar
Cheiroso
Cristalizando
Em algodão doce

Saliva a boca
Rodando em dança
Toma corpo
E conto os dias
Para banquetear
O teu...

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Nós

Eu me vejo
Nos seus olhos
E esqueço
O azul lindo
Do céu

Seu coração
Perto do meu
Esquenta mais
Que os nosso pés
Sobre a telha

Você é meu passarinho
Meu amor e meu carinho
Minha perdição
E meu caminho

Maresia

Eu
No fundo
De um barquinho

Mãos na nuca
Sol que atravessa
A blusa
E intumece
Os sensíveis

Dane-se
O vermelho
Que me invadirá
A pele à noite

Meu corpo
Já arde em febre
E a brisa sopra
O teu salgado
Nos meus lábios

Eu deitada
No fundo
De um barquinho

Imagino que o balanço
É o teu doce amor
A me ninar

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

domingo, 22 de novembro de 2015

Pro Menino

Com você
Minha vida
É mais leve
Meus sorrisos
Têm mais pérola
Minha vida tem mais cor

Com você
Tudo entra
No ritmo certo
Quero ter
Você por perto
Prá poder falar de amor

sábado, 21 de novembro de 2015

Indefinido

Imediatista demais prá ser amor
Sólido demais prá ser ilusão
Bom senso demais
Prá ser paixão

Amizade demais
prá ser sofreguidão
Calculista demais
Prá ser obsessão

Na falta
De palavra melhor
Batizemos de
"Eu e você"
E digamos
"Não é nada
De mais..."

Ilusão

Iluminar apenas
A parte sinuosa
Do corpo
Correr os olhos
Pelas curvas
Tomar a parte
Pelo todo
Como se possível
Fosse
(para a alma)
Contentar-se
Com pouco

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Lua-de-Fel

A convivência
Tira as cascas
Tira as lascas
E o verniz

O dia-a-dia
Derrete a máscara
Desdoura a pílula
Revela a cicatriz

A pele exposta
Os cheiros crus
A reação não polida
Os olhos nus

São testes para o amor
As provas do querer
É abraçar com carinho
Ou deixar o belo morrer

Simples

Não me ponha
Em pedestal
És apenas
Um homem
Sou apenas
Uma mulher

Não há bem
Não há mal
Há mistérios
Que o amor
Só revela
A quem quer

Me entrega
Teu coração
De menino
Faço remendos
Como ninguém

Não há segredo
Nem destino
Eu só quero te amar
E ser amada
Também

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Em Você

Me encontro
Me agarro
Me situo
Me enlevo
S
* a
** i
*** o
**** d
***** o
******* e
******** i
********** x
************ o
Me solto
Me deixo

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Esperança

Há de se trabalhar a culpa
Há de se poupar as crianças
Há de se cultivar o bom desejo
Há de se cuidar do que é puro

Há de se preservar o olhar no belo
Há de se esquecer a matança
Há de se manter o que pulsa
Há de se regar o que floresce

Há de se tecer o que protege
Há de se escrever o que distrai
Há de se bordar o invisível
Há de se sorrir sem motivo

Há de se deixar soprar
Num novo vento
Para a vida continuar
A valer a pena

Registro

Fotografar
É dar de presente aos olhos
O que o coração sente
Repetidamente

Tentativa de eternizar
O que vale existir
Expor, celebrar
Ou denunciar

O que deve ser mais
Que um momento
Neste mundo fugaz

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Líquidos

Não compreendo
O jejum voluntário
Na presença de banquete
Sempre tive bom apetite
E me fartei de migalhas

Não me deito com insones
Porque sonho colorido
Em cada arco-íris
Certamente um pote de ouro

Tenho penas e asas
Não me vejo em escamas
Inspiro fundo
Conjuro pulmões
Não entendo guelras

(Afogar-me-ia no seu mundo)

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Fotográfica

Eu me lembrarei de você
Ai, e como...
Quando tocar essa música
Me lembrarei da sua mão
Sobre a minha
E o seu coração por baixo

Eu me lembrarei disso aqui
Da minha roupa e da sua
Do cheiro do seu rosto
Da sua pele bem barbeada
Que meus lábios tocam

Eu sorrirei ao lembrar
Do suor que escorre
Do calor e das risadas
Do "permita-se"
E de como eu não tive
Outra escolha
Que não obedecer...

domingo, 15 de novembro de 2015

Unapologetic

Não me meça
Não me vigie
Não me observe
Não sou tua extensão
Nem da tua conta

Não me aprove
Não me avalie
Não me apoie
Nunca quis aprender
A tua métrica

Consistência

E eu insistirei
Em ser feliz
Em sentir e em lutar
E em tudo o que eu quis

No bom senso
Ao escolher amigos
Na inocência
Ao fazer inimigos
Na loucura
De viver amores

Eu insistirei
Na química do sorriso
No abraço, no abrigo
No cuidado ao frágil
Na fuga do perigo

No passageiro
E no perene
No que se abandona
E no que se cultiva
No que se carrega
E no que se esquece

Mas acima de tudo
Eu insistirei
Em existir em mim
E para mim mesma

sábado, 14 de novembro de 2015

Fui

Faço as contas
A promessa
Desfaço a figa
Fino filete
De paciência
A se escoar
Faço de conta
Disfarço a liga
Fujo de novo
Faço movimento
É a fila
A andar

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Pós Alta

Existe uma paz quase perene
Um cuidar de si solene
Uma entrega aos quatro elementos
Uma harmonia de sentimentos

A fuga do que destrói
A procura pelo que dura
Características apenas dos seres
Que sobreviveram à própria loucura

Musa

A outra toda ali
Um dia a esposa reconheceu
Estampada escancarada
Em tudo o que escreveu

Não havia mais como negar
Era flor e fruto, caule e raízes
Eram (todos os três)
Patéticos infelizes

Louca

Quantas cascas ainda arrancarei
Prá me situar em mim
Quantos toques da língua
No dente doido
Para auto punição
Quantos degraus de loucura
Ainda há para subirmos
Quantos mililitros de sangue
Escoarão nos seus caninos
Em nome dessa nossa vaidade
Cuja sede não tem limites

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Dualidade

Dualidade

Se me queres
Verdadeira
Me acolhe inteira
A bruxa morde
A fada assopra
E no final do dia
Nem saberias
Por qual das duas
Morrerias...

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Quer?

"Você quer vir?"
Escreveu ela
"Então venha
Mas antes abra o meu apetite
Com palavras e ideias
Surpresas e risos
Me faça sonhar com você
Deixe em casa os planos
Os medos, os sustos e os pudores
Comece a jejuar já
E traga mil talheres..."

domingo, 8 de novembro de 2015

Contraste Básico

Seu formato de triângulo
Com base voltada pro infinito
Minha curvas de ampulheta
Equilibram o meu peso
Em direção ao chão

Meu vacilo trêmulo
Falta de coordenação
Seu reflexo sereno
Firmeza de condução

Minha pele macia
Fina pétala sensível
Sua mão de lixa fina
Língua de gato, arrepia

Minhas coxas
Brancas roliças afastadas
Seu quadril negro
No movimento certeiro

sábado, 7 de novembro de 2015

Ela

Já cruzou mares
Tocou os pés
Em areias escaldantes
E neves gangrenantes
Entre estrangeiros de outras línguas
Emudeceu sentimentos berrantes

Deixe-a estar...

Já chorou abortos de outras
E devolveu filho adotado
Colocou prá dormir a dor dilacerante
Ajudou a nascer filhos inesperados
Acompanhou passos para a morte
Internou gente amada em manicômio
Resgatou parente da inimiga
Ouviu clamores de detentos

Deixe-a ser...

Se queres tocar seu corpo
Peça a permissão
Talvez recebas um "sim"
Na certeza de que vem um "não"
Mas se queres tocar sua alma
Observe os detalhes
E faça com cuidado
Há cicatrizes e chagas abertas
E mesmo ela não sabe qual é qual

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Nutritivo

Ele é
O meu manjar de côco
Com ameixa
Minha salada de frutas
Com groselha
Meu bolo de fubá
Com goiabada
De noite me esquenta
E começa pela beirada

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Adendo

Sobre o exagero do querer
E a felicidade do encontro
Apenas uma declaração
E pronto:
"Merecia
Ter
D
u
r
a
d
o
Mais..."

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Perturbada

Fique quieto
Passarinho
Não ouse abrir o bico

Ele já se foi
Já partiu
Mas está aqui comigo

Silencie, meu pequeno
Aqui eu te
Dou abrigo

Logo as vozes voltarão
E confirmarão
O que te digo

Crítico

Meu medo nem é
Que você
Ache meu poema
Fraco

Ele é trêmulo
Espontâneo
Inexato

Meu medo
Nem é
Que você
Deixe de ler

Meu medo é
Me declarar
E você não saber
Que é prá você

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Finados

Tentando não lembrar
Que hoje é dia de quem a gente amou
Gente que se ausentou
Tentando não chorar a saudade
Ao menos um único dia

Pássaro

Você
Traço ondulado
Escuro
No meu céu azul

Você
Concreto
Contraste
Com o etéreo
Das minhas nuvens

Você
Sinta-se convidado
A pousar
No meu colo

domingo, 1 de novembro de 2015

Diferenças

Onde enxergas tempo perdido
Ouço músicas de relógios
Onde venero o silêncio
Procuras heavy metal
O que manténs sem exercício
Eu chamo de desperdício
O que gostas
Me frustra

Na tela que me mostra
Sabedoria e profundidade
Beleza e dignidade
Vês agonia e tristeza
Sofrimento e desistência
Nossas paletas são diferentes
Sou de um daltonismo
Que me protege
Do que vês

Sob(re) o (In)suportável

E a fonte
Outrora
Inesgotável

Sóbria
Sussurrante
Sedutora
Saciadora
De vontades

Um dia
Simplesmente
Secou
(Lasque-se!)