quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Tempo

Enquanto eram carne
As carnes se entendiam
Pele, pêlo, boca e cheiros

Enquanto era pouco
O pouco nos bastava
Riso, música, poesia, novelo

Mas o tempo enfeitiça
(Segue bobo, cabra-cega)
Vão é o jogo de faz-de-conta

A verdade não se nega
Se deu saudades, se doeu
Seu amor agora é meu

domingo, 25 de setembro de 2016

Oásis

Eu só quero me deitar de barriga pra cima
Reproduzir o oásis onde não existem problemas
Escutar uma músicas nada a ver comigo
E acariciar umas costas morenas
(Eu só quero que seja você)

Insatisfação

Às vezes dá vontade de querer diferente
Mas é o meu velho vício
Das veias pedindo um novo desafio
Que eu quebraria entre as coxas
Com estalo de nozes se abrindo

Às vezes é a água parada que me dá náuseas
A falta de drama do tipo que eu gosto
Talvez a cobiça de defeitos dos outros
A loucura à qual nunca me permiti
E da qual eu fujo

Talvez seja mesmo ingratidão à vida
Que me deu todas as armas de que preciso
Menos o óculos da obviedade
Que me mostraria que tudo está tão perfeito
Quanto poderia estar (palmas para mim)

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Desejo

Eu não preciso de você pra pagar as contas
Nem pra apoio moral
Não preciso que me ajude com as crianças
Nem que pendure o meu varal

Eu não preciso que você me elogie
Nem ao menos um "bom dia"
Você não me ajuda quando eu estou cansada
Nem quando entro em alguma fria

Mas eu quero você com todas as forças
E você também me quer
Porque na hora de ser homem
Eu sei ser a sua mulher

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Órbita

Eu volto, meu lindo
Como volta a primavera todo ano
Pra desabrochar as flores
E os beijos da sua boca

Eu volto, meu lindo
Porque orbito o seu querer
E a sua gravidade me chama
E é escuro longe de você

Você volta, meu lindo
Porque branca é a sua cor preferida
Porque tem boa memória
E é tão bom a gente se ter

sábado, 17 de setembro de 2016

Busca

A roda da fortuna
Tão rapidamente girou
Tão rapidamente feriu
E pra longe te levou

Deixou a sede
A fome, o frio
Deixou o vazio

A roda da fortuna
Gosta de rir dos infortúnios
Só esquece às vezes
Que os sobreviventes se buscam

(E se encontram no meio do caminho)

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Sincero

A pupila dilatou umas vinte vezes
E o nariz gostou do que sentiu
O abraço encaixou gostoso
A imaginação gostou do que ouviu

Vem me fazer parar de salivar, agora...

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Seletiva

A minha saudade é traiçoeira
E trabalha contra mim
Tem memória seletiva
Apagou a parte ruim

Manteve o doce
O delicado
Traz para o presente
O nosso passado

A minha saudade é teimosa
Pinta tudo de cor-de-rosa
Expande o vazio que ficou
Chora o nada que restou

(Só não admite que o silêncio existiu
Muito antes da sua partida)

domingo, 11 de setembro de 2016

Meteorológica

Meteorológica

Prevejo que chega essa semana
Uma frente fria de saudade
E vou ter que chamá-lo
Pra chover carinho em mim

Perguntas

Como foi pra você
Descobrir que eu tenho limites
Que o amor pode virar ódio
Ou, pior: indiferença?
Como foi?

Como foi pra você
Tentar me substituir sem cerimônia
Pisar na minha garganta enquanto eu estava caída
E me ver levantar sozinha?
Como foi?

Como foi pra você
Ver que eu estava certa o tempo todo
Que por mais que as vontades tenham coincidido (temporariamente)
No fim éramos o que éramos:
Apenas dois seres humanos, não melhores que os outros
Como foi?

E antes que me pergunte: pra mim não foi surpresa
Eu já tinha visto leite azedar antes

domingo, 4 de setembro de 2016

Dia D

Nessa distância danada
Nesse desejo desvairado
Nessa dádiva endoidecida
Nessa dúvida adiada
Fluímos nós dois
Divinamente
Dedicados

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Dualidade

Dualidade

No âmago é sensível
E busca o belo
Artístico
Poético

Boa em harmonizar
Palavras
Desejos
Devaneios

Mas na real
É apática
Impressionável
E desleixada

(Faz aliança com os perversos)

Sugestões

Receita para pegar no sono: finge que está dormindo. Fecha os olhos, aquieta a mente, fica imóvel. No começo, vai parecer forçado. Mas quando você menos esperar, está sonhando, e dali a pouco o relógio desperta para um novo dia.
Receita para esquecer alguém: finge desinteresse. Não para ele. Finge que nem se importa se ele nota ou não. Não faz contato, não fala sobre ele, não fica vendo fotos, ouvindo músicas, indo a lugares que lembram vocês. No começo, vai parecer artifcial. Mas quando menos você esperar, é só uma pessoa a mais na face da Terra.
Só que existe uma coisa chamada insônia. E gente inesquecível. Não desaparecendo os sintomas, procure um médico. Ou um psicólogo.